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Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro de ti se achava inteiramente nua...
"Mário Quintana"
poesia
[Do gr. poíesis, ‘ação de fazer algo’, pelo lat. poese, + -ia1.]
Substantivo feminino.
1. Arte de escrever em verso. 2. Composição poética de pequena extensão.
3. Entusiasmo criador; inspiração. 4. Aquilo que desperta o sentimento do belo.
5. O que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas. 6. Encanto, graça, atrativo.
Gênese
Sonho de Cinderela I
É enigmático o olhar dela
no parapeito da janela.
Daqui de baixo parece
que o por do sol a entristece,
mas há quem possa dizer
que o que ela quer é viver.
Não vê a montanha ao longe
Nem o sol lhe dando adeus.
O seu silêncio é uma prece
que leva o seu olhar muito além
dos sonhos do dia a dia.
Ela teve um lindo sonho.
Ela ouviu o coração.
De onde estou me parece
que o que ela quer é viver
o sonho de bailarina
Dalton Marçal da Cruz
junho/2004
Sonho de Cinderela II
Do parapeito da janela
A menina despediu-se do sol
Acariciou as curvas da montanha
Com um resto de olhar triste
E partiu em busca do sonho.
Na escola cultivou amigos
E no limite da quadra
Enquanto a bola girava
Ampliou seus horizontes
Aprendeu a bailar
E bailando conheceu a alegria
Natural e sincera das crianças...
Resolveu ser professora.
E como uma seta em disparada
Um carro prata novinho em folha
Para levar o sonho da bailarina.
Rumo ao infinito do olhar.
Dalton Marçal da Cruz
15/04/2014
Primeiro criou-se os céus e a terra,
a água , a luz e o firmamento.
A relva, as ervas,
as sementes e os frutos...
O Sol, a Lua e as Estrelas.
Nasceu o dia e a noite,
irmãos que nunca se encontram.
Povoou-se os mares, os ares e a terra
de todos os seres viventes,
segundo as suas espécies.
Fez- se o homem e a mulher.
A árvore da vida
e a árvore do bem e do mal.
Nasceu o primeiro fruto
e o livre-arbítrio.
E por fim... a poesia
que o homem chamou de sua,
até vê-la na janela do outro lado da rua,
nas flores, pássaros
ou em quase tudo que via.
Dalton Marçal da Cruz
setembro/2008

Tem tudo a ver
Elias José
A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.
A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.
A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o voo,
e o canto dos pássaros,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.
A poesia
― é só abrir os olhos e ver ―
tem tudo a ver
com tudo.
Segredinhos de amor. 2ª- ed. São Paulo: Moderna, 2002.
Travatrovas
Ciça
O pedreiro Pedro Alfredo
O pedreiro Pedro Alfredo,
o Pedro Alfredo Pereira,
tramou tretas intrigantes,
transou truques, pregou petas,
pois Pedro Alfredo Pereira
é um tremendo tratante!
Se um dia me der na telha
Se um dia me der na telha
eu frito a fruta na grelha
eu ponho a fralda na velha
eu como a crista do frango
eu cruzo zebu com abelha
eu fujo junto com a Amélia
se um dia me der na telha.
Chegou "seu" Chico Sousa
Só sei que "seu" Chico Sousa
chegou e trouxe da China
a seda xadrez da Célia
o xale roxo da Sônia
o xale cinza da Sheila
e a saia chique da Selma.
Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. © Ciça Alves Pinto
Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz
Otávio Roth
Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela. /.../
Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo. /.../
Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz.
São Paulo: Ática, 1994.
Família
Tinha pai e mãe.
Filho e filha
E até uma TELEVISÃO!...
Tinha irmão e irmã,
namorado e um amigo
E até gato bebendo leite.
Tinha avô e avó,
Sobrinho e neta
E até uma boneca de pano.
Eram pontos de uma rede.
Moinho domando o vento.
Retalhos de uma existência,
Era a vida...
Todos eles tinham um nome:
Maria, José ou ou João.
Todos trilhavam um caminho
Em busca de uma razão.
Dalton Marçal da Cruz
15/04/2014
PRODUÇÃO DE TEXTOS-POESIA
Prof.: Dalton
É muito bom estar em uma escola em que todos trabalham com tranquilidade e foco no objetivo de fazer com que os alunos avancem! Em 2012, dei aulas na EE Recanto São Manoel, em Salto de Pirapora (SP). Era uma escola de tempo integral, pequena e aconchegante, com apenas duas turmas (de 4º e 5º anos). Em uma das reuniões de planejamento, surgiu a ideia de trabalhar poemas com o objetivo de desenvolver leitura e escrita. Eu fiquei com aquela vontade de fazer isso de um jeito diferente. Pensando nisso, nasceu o projeto Poemisetas – Escrevendo e Vestindo Nossos Versos.
Gosto de definir o Poemisetas como uma viagem de sonhos e sentimentos por meio da leitura e da escrita, na qual o viajante veste a própria criação. É uma segunda pele, tatuada com palavras carregadas de nossas emoções.
O projeto foi realizado de agosto a dezembro, e todas as etapas foram desenvolvidas simultaneamente nas duas salas da escola – o 4º ano da professora Marlene Andrade e o meu 5º ano. Fizemos tudo em conjunto. Traçamos a rota e desenhamos as estratégias. O resultado está abaixo, para você ler e, quem sabe, se inspirar:
1º passo: preparação
O primeiro desafio foi buscar um material de qualidade. Queríamos selecionar poemas de grandes escritores brasileiros. Fomos à biblioteca da escola, vasculhamos a internet, consultamos algumas edições de NOVA ESCOLA, o caderno de poemas das Olimpíadas da Língua Portuguesa e vários colegas. Foi até difícil escolher com tanta coisa maravilhosa à disposição. Olha só que time entrou na nossa lista: Cecília Meirelles, Vinicius de Moraes, Otávio Roth, Patativa do Assaré, José Paulo Paes, Cora Coralina, Manoel de Barros, Henriqueta Lisboa e outros.
2º passo: apresentação do projeto
Explicamos para os alunos que a proposta era ler alguns dos maiores poetas brasileiros e escrever seus próprios poemas para aprender a ler e escrever melhor. Falamos também sobre o produto final, que seria um livro, com todas as produções, mas não só isso. Cada um iria ganhar uma camiseta estampada com trechos de poemas escritos coletivamente e encerrar o projeto em um sarau para toda a comunidade escolar. Os alunos ficaram empolgados com a ideia!
3º passo: apresentação da vida e obra dos autores
Estudamos a vida e obra dos vários escritores que havíamos selecionado e declamamos alguns poemas feitos por eles. Os alunos adoraram e também puderam apresentar versinhos que sabiam. Ficaram admirados com as descobertas, principalmente sobre aqueles que já eram conhecidos por eles, como Vinicius de Moraes. A escola possuía uma biblioteca com muitos livros, que nossa diretora Ednéia fazia questão de deixar bem disponíveis. Essa etapa é muito importante para repertoriar os alunos e para descobrir o que eles já sabem. No caso da minha turma, vi que muitos gostavam dos poemas da Arca de Noé, do Vinicius. Que delícia de aulas!
4º passo: rodas de leitura
Fizemos várias rodas de leitura, para que as turmas pudessem conhecer melhor os poemas e as características de cada autor. Li para eles, e eles leram para todos, cada um à sua maneira. Fui explorando os recursos de escrita que surgiam, como o uso de rimas e repetições, os temas, a forma gráfica e outros elementos. Surgiram comentários interessantes. Quando lemos o Trem de Ferro, do Manuel Bandeira, os estudantes perceberam a intenção do escritor de dar ao texto o ritmo do trem por meio das repetições. Gostaram e riram muito do poema de Otávio Roth, Duas Dúzias de Coisinhas à Toa que Deixam a Gente Feliz, pois se identificaram com o tema do universo infantil e perceberam as rimas nos finais dos versos. Expliquei também sobre a estrutura de versos e estrofes e organizamos em cartazes, com o auxílio dos poemas impressos, como cada autor utilizou os recursos e estruturas do gênero. Essas atividades foram repetidas pelo menos seis vezes. Isso foi importante porque mais adiante, na hora de escrever, as crianças precisariam de bons exemplos.
5º passo: visita ao Museu da Língua Portuguesa:
Antes de iniciar as oficinas de escrita, fizemos uma visita ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, um espaço que favorece muito (ou favorecia, já que no momento ele se encontra em reforma depois do triste incêndio que destruiu o prédio) a apropriação das obras literárias. Lá, os poemas projetados no teto e no chão, acompanhados por uma combinação de imagens e narração, pareciam ganhar vida. Alguns alunos se emocionaram até às lágrimas.
6º passo: oficina de escrita coletiva
Depois de acumular toda essa bagagem de aprendizados, chegou a hora de abrir as oficinas. Começamos a escrever coletivamente, com base em temas queridos da turma como brincadeiras, animais e coisas engraçadas. Escreveram em duplas, em grupos pequenos e com toda a classe. Além do papel de escriba nos momentos de composição com todos, eu orientei cada momento. Com cuidado, fazia as intervenções perguntando quais recursos de escrita eles poderiam utilizar, o porquê do tema escolhido etc. Fizemos pelo menos seis atividades. Quanta criatividade! Os alunos produziram textos bonitos, poéticos mesmo. Foi emocionante e surpreendente para mim. Em um poema, li o seguinte verso: “A tristeza é triste, mas tão triste que dói!”
7º passo: oficina de escrita individual:
Nessa etapa, os alunos iam escrever sozinhos. Propus alguns temas e deixei também que escrevessem de forma livre. A inspiração fluiu naturalmente e eles produziram muito. Cada um em seu estilo, bem apropriados das características do gênero. Mais uma vez, foram pelo menos seis atividades que deram origem a poemas lindos, emocionantes e bem escritos.
8º passo: edição do livro
Para deixar o produto ainda mais completo, deixei que os alunos fizessem as ilustrações, uma atividade que aproveitei para conversar um pouco sobre os efeitos da combinação de imagem e escrita. Eles comentaram que sentem que os poemas, quando ilustrados, ficam mais completos. Então, editei o livro no computador e a turma ficou admirada com o resultado final. Era a hora de cada um levar seu exemplar para casa e compartilhar a criação.
Páginas do livro de poemas dos alunos do projeto, inspirados por grandes poetas brasileiros. (Foto: Reprodução)
9º passo: as camisetas
Essa foi uma etapa trabalhosa. Editei no computador um logotipo para o projeto junto com os versos de um poema produzido coletivamente e desenhos dos alunos – era o Poemisetas. Imprimi esse material em folhas transfer e, com um ferro de passar roupa, transferi para a estampa para o tecido. Toda a equipe escolar ajudou, até a merendeira. Para cada aluno, fizemos uma camiseta personalizada com um verso diferente nas costas e o logotipo na frente. Dessa maneira, conforme as crianças se posicionassem lado a lado “vestidas” com os versos, recriaram o poema a cada mudança de lugar de forma interativa.
10º passo: o sarau poético
Pátio decorado com poemas pendurados ao vento, um varal com as camisetas, mesa com flores e exemplares dos livros e um tapete vermelho para receber os convidados. Os pais e pessoas da comunidade compareceram felizes e admirados. Toda a equipe escolar estava emocionada. Os alunos, atores principais, declamaram os textos. Entre muitas risadas e choros de emoção, encerramos o projeto distribuindo os exemplares e as camisetas. Todos os alunos vestiram as peças e brincaram de transformar o poema. Quem assistiu adorou a ideia! Como dizia um dos versos do Poemisetas: “Plantar a amizade! Colher felicidade!"
11º passo: avaliação
Dias depois do sarau, fizemos uma roda de conversa. Falamos sobre o que deu certo e o que precisava melhorar, e concluímos que o saldo foi positivo. Quanto a minha avaliação, pude ver meus alunos progredirem na leitura e na escrita de forma considerável. Passaram a ler mais e com mais fluência e autonomia, ampliaram seus conhecimentos, descobriram muitos textos e se apropriaram dos recursos de escrita. A estratégia de trabalhar com uma sequência que vai da apresentação de bons modelos à escrita individual foi decisiva.
Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os professores e funcionários que apoiaram o Poemisetas: Marlene, Grácia, Alessandra, Valéria, Paulo, Jobel, Maria Estela, Jeremias, Diego, Raquel e a diretora Ednéia Cleide Formigoni Leite.
E vocês, quais projetos coletivos andam participando e desenvolvendo em suas escolas? Conte aqui nos comentários!
Um grande abraço a todos e até segunda!
Mara Mansani