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LITERATURA

“A arte que utiliza a palavra como matéria prima"

 

Pausa

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa. 

Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas? 

Com algum ciclista tombado?

Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará. 

E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos escuros sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois- Dom Quixote ou Sancho?- vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.

E agora?

Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:

¨Io sonno um poeta o sonno um imbecile?¨

Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...

A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.

E daí?

_Mas o melhor - pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança-, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

                                                Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo

 

Mário Quintana (1906-1994)

Poeta sul-rio-grandense. Buscando sempre uma poesia simples e despojada, publica mais de uma dezena de livros, entre os quais destacam-se: A rua dos cata-ventos (1940),Espelho mágico (1948), o Aprendiz de feiticeiro (1950), Caderno H (1977) e Esconderijos de tempo (1980).

 

Dom Quixote e Sancho Pança – Personagens da novela Dom Quixote, de Miquel de Cervantes, escritor espanhol do século XVI. As duas personagens representam os dois lados da alma e do comportamento de todo ser humano: Dom Quixote é símbolo do idealismo, do sonho, da imaginação, do espírito de aventura..., Sancho Pança, do realismo, do espírito prático, dos interesses imediatos...

                   Stechetti – pseudônimo do escritor italiano Olindo Guerrini (1845-1916)

Io sonno um poeta o sonno um imbecile?¨ - Eu sou um poeta ou um imbecil?

 

A LITERATURA

 

A obra literária, utilizando a palavra, recria a realidade, a vida. Essa definição focaliza dois aspectos opostos, mas complementares, da arte liberaria: criação e representação. 

Por outro lado ela é invenção, o autor cria uma realidade imaginária, fictícia. Mas o universo da ficção mantém relações vivas com o mundo real. Nesse sentido, a literatura é imitação da realidade.

Frequentemente os autores utilizam fatos de sua vida como matéria de literatura. São as chamadas obras confessionais. Mesmo nesses casos, não devemos entender os textos como simples biografias. Os fatos pessoais são apenas parte da matéria literária, o ponto de partida. Entre o que o autor viveu ou sentiu e a obra existem todas as mediações da invenção, imaginação. Existe, sobretudo, o trabalho criativo com a palavra, que pode ser em prosa ou em verso.

Ficção – ato ou efeito de fingir, simulação, fingimento, coisa imaginária, fantasia, invenção;

Prosa – discurso que reproduz a maneira natural de falar sem métrica, ao contrário do verso

O CONTO SE APRESENTA

 

            Olá!

            Não, não adianta olhar ao redor: você não vai me enxergar. Não sou uma pessoa como você. Sou, vamos dizer assim, uma voz. Uma voz que fala com você ao vivo, como estou fazendo agora. Ou então que lhe fala dos livros que você lê.

            Não fique tão surpreso assim: você me conhece. Na verdade, somos até velhos amigos. Você já me ouviu falando de Chapeuzinho Vermelho e do Príncipe Encantado, de reis, de bruxas, do Saci-Pererê. Falo de muitas coisas, conto muitas histórias, mas nunca falei de mim próprio. É o que eu vou fazer agora, em homenagem a você. E começo me apresentando: eu sou o Conto. Sabe o conto de fadas, o conto de mistério? Sou eu. O Conto.

            Vejo que você ficou curioso. Quer saber coisas sobre mim. Por exemplo, qual a minha idade.

            Devo lhe dizer que sou muito antigo. Porque contar histórias é uma coisa que as pessoas fazem há muito, muito tempo. É uma coisa natural, que brota de dentro da gente. Faça o seguinte: feche os olhos e imagine uma cena, uma cena que se passou há muitos milhares de anos. É de noite e uma tribo dos nossos antepassados, aqueles que viviam nas cavernas, está sentada em redor da fogueira. Eles têm medo do escuro, porque no escuro estão as feras que os ameaçam, aqueles enormes tigres, e outras mais. Então alguém olha para a lua e pergunta: por que é que às vezes a lua desaparece? Todos se voltam para um homem velho, que é uma espécie de guru para eles. Esperam que o homem dê a resposta. Mas ele não sabe o que responder. E então eu apareço. Eu, o Conto. Surjo lá da escuridão e, sem que ninguém note, falo baixinho ao ouvido do velho:

            ----- Conte uma história para eles.

            E ele conta. É uma história sobre um grande tigre que anda pelo céu e que de vez em quando come a lua. E a lua some. Mas a lua não é uma coisa muito boa para comer, de modo que lá pelas tantas o grande tigre bota a lua para fora de novo. E ela aparece no céu, brilhante.

            Todos escutam o conto. Todo mundo: Homens, mulheres, crianças. Todos estão encantados. E felizes: antes, havia um mistério:

por que a lua some? Agora, aquele mistério não existe mais. Existe uma história que fala de coisas que eles conhecem: tigre, lua, comer ____ mas fala como essas coisas poderiam ser, não como elas são. Existe um conto. As pessoas vão lembrar esse conto por toda a vida. E quando as crianças da tribo crescerem e tiverem seus próprios filhos, vão contar a história para explicar a eles por que a lua some de vez em quando. Aquele conto.

            No começo, portanto, é assim que eu existo: quando as pessoas falam em mim, quando as pessoas narram histórias

----- sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas. Histórias que atravessam os tempos, que duram séculos. Como eu.

            Aí surge a escrita. Uma grande invenção, a escrita, você não concorda? Com a escrita, eu não existo mais somente como uma voz. Agora estou ali, naqueles sinais chamados letras, que permitem que pessoas se comuniquem, mesmo à distância. E aquelas histórias ----- sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas ----- vão aparecer em forma de palavra escrita.

            E é neste momento que eu tenho uma grande idéia. Uma inspiração, vamos dizer assim. Você sabe o que é inspiração? Inspiração é aquela descoberta que a gente faz de repente, de repente tem uma idéia muito boa. A inspiração não vem de fora, não é uma coisa misteriosa que entra na nossa cabeça. A boa idéia já estava dentro de nós; só que a gente  não sabia. A gente tem muitas boas idéias, pode crer.

            E então, com aquela boa idéia, chego perto de um homem ainda jovem. Ele não me vê. Como você não me vê. Eu me apresento, como me apresentei a você, digo-lhe que estou ali com uma missão especial ----- com um pedido:

            ----- Escreva uma história.

            Num primeiro momento, ele fica surpreso, assim como você ficou. Na verdade, ele já havia pensado nisso, em escrever uma história. Mas tinha dúvidas: ele, escrever uma história? Como aquelas histórias que todas as pessoas contavam e que vinham de um passado? Ele, escrever uma história? E assinar seu próprio nome? Será que pode fazer isso? Dou força:

            ----- Vá em frente, cara. Escreva uma história. Você vai gostar de escrever. E as pessoas vão gostar de ler.

Então ele senta, e escreve uma história. É uma história sobre uma criança, uma história muito bonita. Ele lê o que escreveu. Nota que algumas coisas não ficaram muito bem. Então escreve de novo. E de novo. E mais uma vez. E aí, sim, ele gosta do que escreveu. Mostra para outras pessoas, para os amigos, para a namorada. Todos gostam, todos se emocionam com a história.

E eu vou em frente. Procuro uma moça muito delicada, muito sensível. Mesma coisa:

            ----- Escreva uma história.

            Ela escreve. E assim vão surgindo escritores. Os contos aparecem em jornais, em revistas, em livros. Já não são histórias sobre deuses, sobre criaturas fantásticas. Não, são histórias sobre gente comum ----- porque as histórias sobre as pessoas comuns muitas vezes são mais interessantes do que histórias sobre deuses e criaturas fantásticas: até porque deuses e criaturas fantásticas podem ser inventadas por qualquer pessoa. O mundo da nossa imaginação é muito grande. Mas a nossa vida, a vida de cada dia, está cheia de emoções. Onde há gente que sabe usar as palavras para emocionar pessoas, para transmitir idéias, existem, escritores.

                                                                                                                      Moacyr Scliar - Era uma vez um conto - São Paulo: Companhia das Letrinhas ( Texto de abertura do livro)

 

 

            Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, em 1937. Formou-se em medicina no ano em que estreou como escritor, em 1962. Já escreveu mais de cinquenta livros, entre ensaios, crônicas, contos, romances, literatura infantil e juvenil, e alguns deles já foram publicados em diversos países. Seus textos já foram adaptados para cinema, televisão, teatro e rádio.

 

                                                                    

            O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. O conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade. Ao escritor de contos dá-se o nome de contista.

        Não podemos esquecer de nomes como: Hoffman (um dos pais do conto fantástico, que viria influenciar Poe, Machado de Assis, Álvares de Azevedo e outros), Sade, Adalbert von Chamisso, Nerval, Gogol, Dickens, Turguenev, Stevenson, Kipling, entre outros.

            Para um escritor que faz da sua escrita, arte, a trama/o enredo não têm muita importância; o que mais importa é como (forma) contar e não o que (conteúdo) contar. Jorge Luis Borges dizia que contamos sempre a mesma fábula. Julio Cortázar (1914-1984) diz que não há temas bons nem temas ruins; há somente um tratamento bom ou ruim para determinado tema. ("Alguns aspectos do conto", in Valise de cronópio). Claro que há que ter cuidado com o excesso de formalismos para não virar personagem daquela piada: um escritor passou a vida toda trabalhando as formas para criar um estilo perfeito para impressionar o mundo; quando conseguiu alcançá-lo, descobriu que não tinha nada para dizer com ele.

            Necessidades básicas - O conto necessita de tensão, ritmo, o imprevisto dentro dos parâmetros previstos, unidade, compactação, concisão, conflito, início, meio e fim; o passado e o futuro têm significado menor. O "flashback" pode acontecer, mas só se absolutamente necessário, mesmo assim da forma mais curta possível.

            Diálogos - Os diálogos são de suma importância; sem eles não há discórdia, conflito, fundamentais ao gênero. A melhor forma de se informar é através dos diálogos; mesmo no conto em que o ingrediente narrativo seja importante.

COMO SE ANALISA UM TEXTO LITERÁRIO?

A situação é mais ou menos assim: você pega uma folha com um texto. Pode ser um poema, um conto...Não importa. Então corre os olhos por aquela sopinha de letras e vai direto ao enunciado da questão - que geralmente é simples e objetivo: pede que se faça uma uma análise daquele texto - aquele mesmo, que você nem se encorajou a ler.

Sua desgraça começa aí. Por onde começar? O que falar? O que dizer? Que a história "é legal"...que o poema "é lindo e emocionou muito".Pouco convicente, não? Resta desesperar-se? Não. Há saída para essa situação. De antemão, porém, já adianto: não há uma fórmula secreta que leve você a conseguir uma boa análise de texto. O melhor e o mais seguro caminho sempre é o do amadurecimento e do debate - temperados, lógico, com uma boa experiência de leitura e uma dose de informações sobre assuntos diversos.

Porém nem todos que se encontram diante da situação descrita no primeiro parágrafo possuem as qualidades listadas no segundo. Como fazer, então? Voltando à questão inicial: de forma prática, como analiso um texto?

a) O primeiro passo, sempre, é fazer aquilo que você ficou com preguiça de fazer lá no começo: uma leitura integral e desinteressada do material em questão. Esse passo é sempre o mais necessário. Anote num cantinho todas as primeiras impressões que você teve.

b) O segundo passo é reler o texto com um lápis à mão e ir anotando todas as palavras que oferecem dificuldades. Se tiver um dicionário por perto, não tenha medo, que ele não morde. Pesquise. Se não tivernão há problema. Tente usar o contexto para compreender o significado das palavras cujo sentido é essencial.

c) O terceiro passo é identificar o tipo de texto que está diante de você. Pode ser um poema ou um texto em prosa. Lembre-se de que prosa, aqui, não significa bate-papo, mas sim uma categoria de texto marcada pela divisão em parágrafos, e não em versos, como ocorre com o poema. Um conto por exemplo, é um texto em prosa. Por que é importante identificar prosa e poesia? Porque cada qual tem procedimentos próprios para análise.

d) O quarto passo é fazer a análise formal do texto.

     Para um poema deve-se observar: 

1º) sua estrutura: número de versos( verso é cada linha de um poema) e estrofes ( agruipamento de versos) que ocorrem. Se você encontrou  14 versos, divididos em 4 estrofes, sendo as duas primeiras com 4 versos e as duas últimas com 3, coloque lá na sua análise que o seu texto é um soneto.

2º) presença de métrica: os versos Têm medida. Se esta medida. for igual em todos os versos, então ele tem métrica. Caso isso não aconteça, seu texto tem versos livres.

3º presença de rima: rima é a coincidência de sons (em tempo: ela geralmente ocorre no fim do verso, mas pode ocorrer no meio dele, também). Seu texto pode ter rimas ou não. Quando não tiver, você pode dizer que ele tem versos brancos.

Obviamente, os dados que você coletou acima, de nada valem sozinhos. Deve-se agora agrupá-los e analisá-los.

Se o poeta preferiu usar versos brancos, livres, sem divisão igualitária em estrofes, ele tem uma atitude poética diferente daquele que usou um soneto decassílabo, com rimas elaboradas. Atente para o fato de que isso é uma questão de opção de forma - com rimas - a qual, associada aos elementos que analisaremos a seguir, demonstra uma visão de mundo e de fazer poético - e não de qualidade. Existem poetas e poemas deslumbrantes em qualquer um dos casos.

Já o texto em prosa exige que se analise:

1º) o foco narrativo: é o ponto de vista sob o qual a estória é contada.pode ser em 1ª pessoa, ou seja, quando um uma personagem conta a história (acordei cedo, fui ao banheiro, lavei o rosto...) ou em 3ª pessoa, quando um narrador, de fora narra o enredo (acordou cedo, foi ao banheiro, lavou o rosto...).No primeiro caso, temos um narrador-personagem; no segundo, um narrador-observador.

2º) Personagens: são as pessoas ou seres personificados que aparecem em sua narração. Aquelas de mais destaques são chamadas principais ou protagonistas, as demais são denominadas secundárias ou coadjuvantes. As personagens são caracterizadas fisicamente e psicologicamente. O primeiro caso engloba os elementos de aspecto externos (altura, cor, peso, etc.), já o segundo diz respeito `as atitudes, personalidade e dramas das pessoas e das personagens (nervosa, calma,alegre, triste, etc.).

Naturalmente, aí no seu texto nada aparece de forma tão simples assim. Os elementos físicos e psicológicos se misturam. Lembre-se de que personagens são derivações das próprias pessoas e, a não ser que esteja preenchendo um formulário, ninguém pode ser reduzido a uma porção de palavrinhas soltas. O que quero dizer com isso? Que você pode usar sua experiência de analisar pessoas para analisar personagens. Muitas vezes o jeito de uma pessoa mover a mão diz tudo sobre ela. É por que se deve analisar a personagem de seu texto...

 

3º) Tempo: pode ser cronológico ou psicológico. No primeiro caso, é a duração da estória ou a época em que ela acontece: no segundo caso não é propriamente a marcação no relógio ou calendário que importam, mas sim a sensação do tempo. Como funciona isso na prática? Pense  nos 50 minutos de aula. Primeiro entrou o professor de educação artística e deu um trabalho delicoso de se fazer, logo que ele saiu, entrou a professora de Português com listas e listas de palavras e nomes para você estudar. Você se espanta que a primeira aula tenha passado tão depressa e a segunda tenha demorado tanto. O que aconteceu foi que a primeira aula foi mais "leve", o que causou uma sensação temporal diferente da segunda. Psicologicamente, o primeiro evento foi mais rápido que o segundo; cronologicamente, ambos tiveram a mesma duração.

4º) Espaço: é o lugar onde ocorre a estória. Lembre-se de que o espaço físico pode ser acrescido de elementos psicológicos, sociais, econômicos entre outros. Aí passa a constituir o ambiente. Estudar o espaço e o ambiente que os fatos acontecem podem contribuir muito para a sua análise.

Em ambos os casos, ou seja, tanto em textos em prosa quanto poesia, devemos também verificar: 

* O tipo de vocabulário e construção sintática usados pelo autor: se são palavras raras em construções repletas de inversoões de ordem da frase, como ocorre num poema parnasiano, se é um vocabuário simples, com frases curtas e coordenadas, como em Graciliano Ramos, etc.;

*A ocorrência de figuras de linguagem.

Finalmente, chegamos à análise  do tema e do conteúdo. Aqui devemos verificar o tipo de assunto escolhido pelo autor, se ele deixa tranparecer algum algum posicionamento social, político ou religioso, se há alguma personagem que represente algum elemento moral criticado ou valorizado, se o autor faz críticas e análises em geral e que tipo de "recado" ele deixa ao final da leitura. Chegando a este ponto, você pode comparar as conclusões aqui com a primeira leitura. Verificar o que permaneceu, o que se alterou e o que se transformou também é um importante elemento a se acrescentar à sua análise.

HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

O Surgimento:

O surgimento da língua Portuguesa está profunda e inseparavelmente ligado ao processo de constituição da Nação Portuguesa.

Na região central da atual Itália, o Lácio, vivia um povo que falava latim. Nessa região, posteriormente foi fundada a cidade de Roma. Esse povo foi crescendo e anexando novas terras a seu domínio. Os romanos chegaram a possuir um grande império, o Império Romano. A cada conquista, impunham aos vencidos seu hábitos, suas instituições, os padrões de vida e a língua.

Existiam duas modalidades do latim: o latim vulgar (sermo vulgaris, rusticus, plebeius) e o latim clássico (sermo Literarius, eruditus, urbanus). O latim vulgar era somente falado. Era a língua do cotidiano, usada pelo povo analfabeto da região central da atual Itália e das províncias: soldados, marinheiros, ártífices, agricultores, barbeiros, escravos, etc. Era a língua coloquial, viva, sujeita a alterações frequentes. Apresentava diversas variações. O latim clássico era a língua falada e escrita, apurada, artificial, rígida, era o instrumento literário usado pelos grandes poetas, prosadores, filósofos, retóricos... A modalidade do latim imposta aos povos vencidos era  a vulgar. Os povos vencidos eram diversos e falavam línguas diferenciadas, por isso em cada região o latim vulgar sofreu alterações distintas o que resultou no surgimento, posteriormente, das diferentes línguas neolatinas.

No século III a.C., os romanos invadiram a região da península ibérica, iniciou-se assim o longo processo de romanização da península. A dominação não era apenas territorial, mas também cultural. No decorrer dos séculos, os romanos abriram estradas ligando a colônia à metrópole, fundaram escolas, organizaram o comércio e levaram o cristianismo aos nativos... A ligação com a metrópole sustentava a unidade da língua evitando a expansão das tendências à formação de dialetos. Ao latim foram anexadas palavras e expressões das línguas dos nativos.

No século V da era cristã, a península sofreu invasão de povos bárbaros germânicos (vândalos, suevos e visigodos). Como possuiam pouco desenvolvida, os novos conquistadores aceitaram a cultura e língua peninsular. Influenciaram a língua local acrescentando a ela novos vocábulos e favorecendo sua dialetação já que cada povo bárbaro falava o latim de uma forma diferente.

Com a queda do Império Romano, as escolas foram fechadas e a nobreza desbancada, não havia mais os elementos unificadores da língua. O latim ficou livre para modificar-se.

As invasões não pararam por aí, no século VIII a península foi tomada pelos árabes. O domínio mouro foi mais intenso no sul da península. Apesar de possuírem uma cultura muito desenvolvida, esta era muito diferente da cultura local o que gerou resistência por parte do povo. Sua religião, língua e hábitos eram completamente diferentes. O árabe foi falado ao mesmo tempo que o latim. As influências linguísticas árabes se limitam ao léxico no qual os empréstimos são geralmente reconhecíveis pela pela sílaba inicial al - correspondente ao antigo árabr: alface, álcool, alcorão, álgebra, alfândega... Outros: bairro, berinjela, café, califa, garrafa, quintal, xarope...

Embora bárbaros e árabes tenham permanecido muito tempo nma península, a influência que exerceram na língua foi pequena, ficou restrita ao léxico, pois o processo de romanização foi muito intenso.

Os cristãos, principalmente do norte, nunca aceitaram o domínio muçulmano. Organizaram um movimento de expulsão dos árabes (a Reconquista). A guerra travada foi chamada de "santa" ou "cruzada". Isso ocorreu por volta do século XI . No século XV os árabes estavam completamente expulsos da península.

Durante a guerra santa, vários nobres lutaram para ajudar D. Afonso VI, rei de Leão e Castela. Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha, destacou-se pelos serviços prestados à coroa e por recompensa recebeu a mão da filha do rei. Como dote recebeu o condado Portucalense. Continuou lutando contra os árabes e anexando novos territórios ao seu condado que foi tomando o contorno do que hoje é Portugal.

D. Afonso Henriques, filho do casal, funda a nação Portuguesa que fica independente em 1143. A língua falada nessa parte ocidental da península era o galego-português que com o tempo foi diferenciando-se: no sul, português, e no norte, galego, que foi sofrendo mais influência do castelhano pelo qual foi anexado. Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola de Direitos Gerais e obriga  em decreto o uso oficial da Língua Portuguesa.

A Expansão:

Portugal ficou conhecido pelas grandes navegações. No século XV e XVI, através dos movimentos colonialistas e de propagação do catolicismo, espalhou pelo mundo a língua portuguesa. O português era imposto às línguas autóctones como língua oficial ou modificava-se dando orígem aos dialetos crioulos. Foi assim que a língua chegou à América, África, Ásia e Oceania.

O Domínio Atual:

Atualmente, o português é a língua oficial de alguns países (Portugal, arquipélago de cabo verde) e em outras regiões é falado por parte da população como um dialeto (Macau, Goa, Damão e Timor).

 

 

“Escrever não é amontoar palavras que dizem respeito a este ou àquele assunto. As palavras não são mudas! Elas dizem os nossos sonhos, as nossas emoções, os nosso sentimentos... todavia, elas esperam de nós um toque mágico para que sejam acordadas e saiam de seu silêncio. Palavras acordadas são como as cantigas: quando dizem, chegam a emocionar aqueles que as escutam

                                                       Euvânia Machado de Oliveira Rolindo - 1995

 

O texto tem que ser gestado, vivenciado e contestado. Só depois dessa metamorfose é que ele se torna uma estrutura significante, possibilitando um diálogo provocativo com o leitor criativo. Deixa de ser uma simples informação para se tornar o nosso pensar e o nosso sentir. Nesse momen-to as barreiras são quebradas e o texto flui como um parto natural. Com dor. Mas fruto das nossas entranhas e como tal podemos educá-lo, mol-dá-lo de acordo com o destino que queremos dar a ele.

 

 

Camila

 

 

Camila cresce.

Enquanto cresce caminha

em busca de uma existência.

Visualizando o mundo

O palco de sua história.

 

Camila ri.

Um riso quase palhaço.

Um traço um tanto criança,

Que tenta romper com o gesto

A sua herança dogmática

 

Camila dorme.

Reformulando o instante.

Boiando sobre os lençóis

Tal qual um para-quedista,

Que sonha e joga no espaço

O fruto de seu repouso.

 

As Três Meninas

 

Um mesmo DNA.

Em três sonhos diferentes.

 

A primeira me chegou

Tal qual uma para-quedista.

 inquieta. sedenta de conhecimento.

Procurando aconchego.

 

A segunda me chegou de mansinho.

Com pequenos gestos de carinho

Foi se ajeitando no ninho.

Solícita, tímida e meiga.

 

A terceira veio vindo,

Como se já conhecesse o caminho.

Cantou, tocou e lançou o seu destino

Numa tacada certeira num alvo definido.

 

Três Joias brilhando na mão do ourives.

Brilhando, gerando, refletindo a luz.

 

Três razões  diferentes,

Nascidas de um mesmo sonho.

Setas do tempo, pétala ao vento.

Girando, dançando, subindo...

Em busca de novos sonhos.

Coração de mãe

 

 

Talvez seja a coragem

Que faz determinada pessoa

Tornar-se uma vencedora...

 

Ou será o desafio

Que faz um ser humano

Viver mais e intensamente?

 

Talvez ser mãe seja um ideal

Que arrasta, impulsiona,

Dá um sentido maior para a vida...

 

Ou talvez seja a esperança

apreendida com o passar dos anos

Que a faz mais segura, tranquila.

Dedicada, forte e acolhedora.

 

Afinal são 86 anos de vida

Num país chamado BRAZIL.

 

 

 

 

Literatura e realidade

 

A obra literária, utilizando a palavra, recria a realidade, a vida. Essa definição focaliza dois aspectos opostos, mas complementares, da arte liberaria: criação e representação.

Por outro lado ela é invenção, o autor cria uma realidade imaginária, fictícia. Mas o universo da ficção mantém relações vivas com o mundo real. Nesse sentido, a literatura é imitação da realidade.

Frequentemente os autores utilizam fatos de sua vida como matéria de literatura. São as chamadas obras confessionais. Mesmo nesses casos, não devemos entender os textos como simples biografias. Os fatos pessoais são apenas parte da matéria literária, o ponto de partida. Entre o que o autor viveu ou sentiu e a obra existem todas as mediações da invenção, imaginação. Existe, sobretudo, o trabalho criativo com a palavra, que pode ser em prosa ou em verso.

 

      Ficção – ato ou efeito de fingir, simulação, fingimento, coisa imaginária, fantasia, invenção;

      Prosa – discurso que reproduz a maneira natural de falar sem métrica, ao

      contrário do verso.

 

 

Pausa

 

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.

Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?

         Com algum ciclista tombado?

         Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

         E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.

         E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos escuros sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois- Dom Quixote ou Sancho?- vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...

         E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

         Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.

         E agora?

         Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:

         ¨Io sonno um poeta o sonno um imbecile?¨

         Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...

         A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.

         E daí?

         _Mas o melhor - pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança-, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

                                                                                     Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo

 

LITERATURA

“A arte que utiliza a palavra como matéria prima”

 

Verso – unidade rítmica e melódica do poema. Graficamente, é cada uma das linhas do poema. Costuma-se dizer que, enquanto o verso é o ordenador  rítmico do poema, o parágrafo é o ordenador lógico da prosa.

O verso, unidade rítmica e melódica do poema pode ser:       •Metrificado: quando o poeta estabelece uma medida        em número de sílabas,

      •Livre: quando a medida é totalmente arbitrária. Os              verso também podem ser:

      •Regulares: quando o poeta determina um certo ritmo        com sílabas tônicas e rimas a intervalos iguais;

      •Brancos: quando não apresentam rimas.

 

 

Os níveis da leitura

Balada de amor através das idades

                                                  Carlos Drummond de Andrade

 

Eu te gosto, você me gosta

desde tempos imemoriais.

Eu era grego, você troiana,

troiana mas não Helena.

Saí do cavalo de pau

para matar meu irmão.

Matei, brigamos, morremos.

 

Virei soldado romano,

perseguidor de cristãos.

Na porta da catacumba

encontrei-te novamente.

Mas quando vi você nua

caída na areia do circo

e o  leão que vinha vindo,

dei um pulo desesperado

Depois fui pirata mouro,

flagelo da Tripolândia.

Toquei fogo na fragata

onde você se escondia

da fúria do meu bergantim.

Mas quando ia te pegar

e te fazer minha escrava,

você fez o sinal-da-cruz

e rasgou o peito no punhal...

Me suicidei também.

 

Depois (tempos mais amenos)

fui cortesão de Versailles,

espirituoso e devasso.

Você cismou de ser freira...

Pulei muro de convento

mas complicações políticas

nos levaram à guilhotina.

 

Hoje sou moço moderno,

remo, pulo, danço, boxo,

tenho dinheiro no banco.

Você é uma loura notável,

boxa, dança, pula, rema.

Seu pai é que não faz gosto.

Mas depois de mil peripécias,

eu, herói da Paramount,

te abraço, beijo e casamos.

 

Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988

 

 

         “Escrever não é amontoar palavras que dizem respeito a este ou àquele assunto. As palavras não são mudas! Elas dizem os nossos sonhos, as nossas emoções, os nosso sentimentos... todavia, elas esperam de nós um toque mágico para que sejam acordadas e saiam de seu silêncio. Palavras acordadas são como as cantigas: quando dizem, chegam a emocionar aqueles que as escutam.

                                                       Euvânia Machado de Oliveira Rolindo - 1995

 

         O texto tem que ser gestado, vivenciado e contestado. Só depois dessa metamorfose é que ele se torna uma estrutura significante, possibilitando um diálogo provocativo com o leitor criativo. Deixa de ser uma simples informação para se tornar o nosso pensar e o nosso sentir. Nesse momento as barreiras são quebradas e o texto flui como um parto natural. Com dor. Mas fruto das nossas entranhas e como tal podemos educá-lo, moldá-lo de acordo com o destino que queremos dar a ele.

Dalton Marçal - agosto/2011

 

 

Camila

 

Camila cresce.

Enquanto cresce caminha

em busca de uma existência.

Visualizando o mundo

O palco de sua história.

 

Camila ri.

Um riso quase palhaço.

Um traço um tanto criança,

Que tenta romper com o gesto

A sua herança dogmática

 

Camila dorme.

Reformulando o instante.

Boiando sobre os lençóis

Tal qual um para-quedista,

Que sonha e joga no espaço

O fruto de seu repouso.

 

As Três Meninas

 

Um mesmo DNA.

Em três sonhos diferentes.

 

A primeira me chegou

Tal qual uma para-quedista.

inquieta. sedenta de conhecimento.

Procurando aconchego.

 

A segunda me chegou de mansinho.

Com pequenos gestos de carinho

Foi se ajeitando no ninho.

Solícita, tímida e meiga.

 

A terceira veio vindo,

Como se já conhecesse o caminho.

Cantou, tocou e lançou o seu destino

Numa tacada certeira num alvo definido.

 

Três Joias brilhando na mão do ourives.

Brilhando, gerando, refletindo a luz.

 

Três razões  diferentes,

Nascidas de um mesmo sonho.

Setas do tempo, pétala ao vento.

Girando, dançando, subindo...

Em busca de novos sonhos.

Coração de mãe

Talvez seja a coragem

Que faz determinada pessoa

Tornar-se uma vencedora...

 

Ou será o desafio

Que faz um ser humano

Viver mais e intensamente?

 

Talvez ser mãe seja um ideal

Que arrasta, impulsiona,

Dá um sentido maior para a vida...

 

Ou talvez seja a esperança

apreendida com o passar dos anos

Que a faz mais segura, tranquila.

Dedicada, forte e acolhedora.

 

Afinal são 86 anos de vida

Num país chamado BRAZIL.

 

 

 

 

Literatura e realidade

         A obra literária, utilizando a palavra, recria a realidade, a vida. Essa definição focaliza dois aspectos opostos, mas complementares, da arte liberaria: criação e representação.

         Por outro lado ela é invenção, o autor cria uma realidade imaginária, fictícia. Mas o universo da ficção mantém relações vivas com o mundo real. Nesse sentido, a literatura é imitação da realidade.

         Frequentemente os autores utilizam fatos de sua vida como matéria de literatura. São as chamadas obras confessionais. Mesmo nesses casos, não devemos entender os textos como simples biografias. Os fatos pessoais são apenas parte da matéria literária, o ponto de partida. Entre o que o autor viveu ou sentiu e a obra existem todas as mediações da invenção, imaginação. Existe, sobretudo, o trabalho criativo com a palavra, que pode ser em prosa ou em verso.

      Ficção – ato ou efeito de fingir, simulação, fingimento, coisa imaginária,  

      fantasia, invenção;

      Prosa – discurso que reproduz a maneira natural de falar sem métrica, ao

      contrário do verso.

 

 

Pausa

         Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.

         Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?

         Com algum ciclista tombado?

         Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

         E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.

         E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos escuros sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois- Dom Quixote ou Sancho?- vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...

         E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

         Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.

         E agora?

         Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:

         ¨Io sonno um poeta o sonno um imbecile?¨

         Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...

         A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.

         E daí?

         _Mas o melhor - pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança-, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

                                         Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo

 

 

 

Literatura

“A arte que utiliza a palavra como matéria prima”

 

Verso – unidade rítmica e melódica do poema. Graficamente, é cada uma das linhas do poema. Costuma-se dizer que, enquanto o verso é o ordenador  rítmico do poema, o parágrafo é o ordenador lógico da prosa.

O verso pode ser:

      

      •Metrificado: quando o poeta estabelece uma medida em número de sílabas,

      •Livre: quando a medida é totalmente arbitrária.                                                                                               

      •Regulares: quando o poeta determina um certo ritmo com sílabas tônicas e rimas a intervalos iguais;

      •Brancos: quando não apresentam rimas.

Os versos também podem ser:

 

 

Os níveis da leitura

Balada de amor através das idades

                                                  Carlos Drummond de Andrade

 

Eu te gosto, você me gosta

desde tempos imemoriais.

Eu era grego, você troiana,

troiana mas não Helena.

Saí do cavalo de pau

para matar meu irmão.

Matei, brigamos, morremos.

 

Virei soldado romano,

perseguidor de cristãos.

Na porta da catacumba

encontrei-te novamente.

Mas quando vi você nua

caída na areia do circo

e o  leão que vinha vindo,

dei um pulo desesperado

Depois fui pirata mouro,

flagelo da Tripolândia.

Toquei fogo na fragata

onde você se escondia

da fúria do meu bergantim.

Mas quando ia te pegar

e te fazer minha escrava,

você fez o sinal-da-cruz

e rasgou o peito no punhal...

Me suicidei também.

 

Depois (tempos mais amenos)

fui cortesão de Versailles,

espirituoso e devasso.

Você cismou de ser freira...

Pulei muro de convento

mas complicações políticas

nos levaram à guilhotina.

 

Hoje sou moço moderno,

remo, pulo, danço, boxo,

tenho dinheiro no banco.

Você é uma loura notável,

boxa, dança, pula, rema.

Seu pai é que não faz gosto.

Mas depois de mil peripécias,

eu, herói da Paramount,

te abraço, beijo e casamos.

 

Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988

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