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Fica sempre um gosto amargo na boca que critica. A crítica pesa.​ Mesmo que pareça ser justa, reflita ante de proferi-la. Examine. Pondere. Pense nas condições de quem será criticado, noquesentirá, nos efeitos, nos meios que tem para se corrigir e ame.

Releve, sempre que possível. Veja -se no lugar de quem é criticado.Será que você não merece alguma censura? Como reagiria, na mesma situação? ​Se alguém sofre, não lhe acrescente dores.A acusação, a crítica, a repreensão sem amor são fel na boca.

O dicionário

Os dicionários estão presentes nos lares de pelo menos dois terços dos brasileiros – e isso mesmo em um país com tantas dificuldades educacionais como o nosso. Trata-se, sem qualquer sombra de dúvida, de uma obra fundamental para o desenvolvimento cultural e social de um povo. Ainda assim, às vezes, ela não é inteiramente compreendida.

Aumentar sua compreensão e otimizar seu uso são os objetivos deste texto, que, acreditamos, poderá auxiliar o professor a extrair mais de suas aulas de Língua Portuguesa, contribuindo não só para o aprimoramento da competência linguística dos estudantes, como para a disseminação da cultura letrada.

O dicionário tem muitos usos

Se perguntarmos à maioria das pessoas para que serve um dicionário, possivelmente a resposta mais comum será algo como: “Para saber o significado de uma palavra desconhecida.” De fato, esse é o motivo básico pelo qual os dicionários são escritos. Mas está longe de ser a única razão por que são tão importantes na nossa cultura. Se assim fosse, aqueles feitos para falantes nativos (ou seja, não para estrangeiros) poderiam trazer apenas as palavras raras ou “difíceis”. Mas, não; eles registram também os termos do vocabulário comum, porque os motivos que levam alguém ao dicionário podem ser bastante variados. Por exemplo:

• O consulente pode querer saber uma grafia correta, inclusive no tocante à divisão silábica. Esse uso é quase tão comum quanto a busca do significado de um termo desconhecido.

• De modo semelhante, ainda que um pouco menos usual, pode ter dúvida sobre a pronúncia adequada de um vocábulo, qual sua sílaba tônica, se as vogais E ou O se pronunciam com timbre aberto ou fechado.

• Pode estar atrás de um sinônimo, para, ao escrever, evitar repetições. Esse é um bom motivo para pesquisar vocábulos bastante conhecidos (e, por isso mesmo, bastante frequentes), como os verbos dar, fazer ou ser.

• Pode buscar uma informação gramatical, como o plural ou o feminino de um substantivo, o superlativo absoluto sintético de um adjetivo, a conjugação ou a regência de um verbo.

• Pode ter dúvida sobre o uso de um termo: será que tal palavra é adequada a uma fala formal? Às vezes, essa dúvida pode ser extrema: será que tal palavra “existe” (ou seja, já é dicionarizada)?

• Pode ir ao dicionário para verificar a derivação adequada para um vocábulo conhecido (o correto é congelamento ou congelação?).

• Voltando ao campo da significação, o consulente pode conhecer a palavra, mas desconhecer alguma de suas acepções (você sabia que físico é um nome antigo para médico?).

• Pode também ter dúvida sobre a diferença de sentido entre dois vocábulos semelhantes (qual a diferença entre camelo e dromedário? há diferença entre dizer e falar?).

Essa lista não pretende ser exaustiva, mas apenas demonstrar que há várias razões para consultar o dicionário, de modo que seria redutor não explorar toda essa variedade.

Léxico, lexicologia, lexicografia

O uso e o trabalho escolar com o dicionário podem abranger todo o período escolar do aluno. Mas é conveniente que, em algum momento, esse estudo esteja inserido em outro, mais amplo, sobre o léxico, isto é, o conjunto de palavras e expressões pertinentes a um idioma.

O estudo do léxico é empreendido por um ramo da Linguística denominado Lexicologia. Esse estudo serve de base à Lexicografia, que é a técnica, a tecnologia empregada para se registrar o léxico, ou seja, para se redigir um dicionário.

O trabalho escolar com o dicionário depende, em grande medida, de termos uma boa noção sobre o modo como se organiza o léxico de nosso idioma. Com base nesse conhecimento, podemos propor atividades que enriqueçam o vocabulário dos estudantes e os levem a interessar-se mais pela língua portuguesa.

O léxico e a cultura

Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo – ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos.

Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente, uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasileiras) ou uma já extinta (como o latim ou o grego clássicos) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, digamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desenvolver esse vocabulário específico, seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio da criação de novos termos na língua em questão, mas tal tarefa não se realizaria em pouco tempo nem com pouco esforço. Ao contrário, seria necessário o tempo de ao menos algumas gerações, bem como a criação de escolas e a redação de livros especializados para que se pudesse, com desenvoltura, falar de física quântica ou biologia molecular em camaiurá ou latim.

Desse modo, apesar de haver certos conteúdos comuns a todas as culturas, o léxico de uma língua específica expressa uma visão de mundo particular, que de modo algum pode ser considerada sempre natural ou universal.

No início do século XX, numa obra de referência sobre as línguas indígenas dos Estados Unidos, o antropólogo Franz Boas difundiu o que provavelmente seja o exemplo mais conhecido e mais esclarecedor sobre as diferenças vocabulares entre os idiomas e sua relação com a cultura e o estilo de vida dos povos que os utilizam. Analisando a língua dos esquimós, Boas observou que ela possuía um número muito maior de vocábulos para o que as línguas ocidentais denominam neve e para a “cor” a que chamamos branco, fato que, naturalmente, atribuiu à maior importância sociocultural dessas distinções para o mundo dos esquimós do que para o nosso. Estabelecia-se assim o importante princípio da correspondência entre a estrutura do vocabulário e a visão de mundo inerente a cada idioma.

Muitos exemplos podem ser agregados ao da neve em esquimó. Por motivos igualmente óbvios, povos que vivem no deserto do Saara utilizam número maior de termos para designar o que para nós é simplesmente areia. A distinção entre os verbos ser e estar, tão cara à língua portuguesa, não se verifica em muitos idiomas, como o inglês, para o qual ambos os estados se dizem to be.

Áreas terminológicas, como o sistema de parentesco ou o de cores, igualmente variam de um idioma para outro. Em latim, por exemplo, não existe um nome para o que identificamos como a cor azul (vocábulo de origem persa) e que os latinos associavam a uma tonalidade de verde ou de púrpura. Em compensação, possuíam dois termos para o que denominamos branco; em latim, o branco “brilhante” (como o do mármore ao sol) se dizia candidus, ao passo que o branco opaco (próprio, por exemplo, da pintura gasta de certos objetos) era albus.

Os exemplos, em resumo, ilustram a concepção de que o léxico (e a própria língua) associam-se intimamente à cultura e à realidade social das pessoas que o utilizam.

O conhecimento das palavras

Quando conversamos com nossos amigos e familiares, sendo todos falantes nativos da língua portuguesa, julgamos sempre que todos interpretamos as frases da mesma maneira. Mas isso nem sempre acontece. É perfeitamente possível que falantes nativos do mesmo idioma tenham divergências sobre o significado “exato” ou “correto” de um termo.

O léxico também é objeto da norma, fixada pelo uso e, posteriormente, pelos dicionários. Assim é que se fala em inadequação vocabular, ou seja, no emprego de palavras ou expressões num contexto em que seu sentido não seria adequado.

Um texto escolar redigido em outubro de 1999 dizia, em certo momento, que àquela altura estávamos “em meados do século XXI”. O estudante queria dizer que estávamos “às vésperas” do século XXI. A expressão em meados de indica um momento “no meio de” algum processo. Se estivéssemos “em meados do século XXI” estaríamos por volta de 2050.

Eventualmente, um uso equivocado de início pode generalizar-se e fazer esquecer o sentido tradicional. O adjetivo patético deriva-se do vocábulo grego páthos (radical pato–), “sentimento, dor”. Designaria algo muito sentido, muito doído. Uma cena terrivelmente humana, de grande apelo emocional, como o sofrimento causado pela guerra ou pela fome, seria, literalmente, patética. Entretanto, o uso coloquial associa o termo ao substantivo pateta, derivado de pato. Patético passa a ser algo “grotesco, ridículo”. O sentido não só se alterou como chegou a ser antagônico ao original.

Mas tais casos, apesar de facilmente observáveis em períodos maiores da história da língua, não impedem que, em cada época, haja sentidos válidos e sentidos condenados para o conjunto de palavras do idioma.

Do ponto de vista normativo, o desconhecimento do sentido-padrão de um vocábulo pode levar a que nossos enunciados não “signifiquem exatamente o que queremos dizer”, de modo que nossas palavras serão ou poderão ser compreendidas (até por cinismo) em sentido diferente do que foi nossa intenção.

No limite, esse desconhecimento pode constituir-se um problema social e político para o indivíduo ou o grupo que dele sofram.

E na sala de aula?

Nesta seção, apresentaremos algumas sugestões de atividades para sala de aula. Em vários casos, trata-se apenas de abrir possibilidades, dar ideias para o trabalho do professor, não implicando, necessariamente, que as atividades devam ser aproveitadas ipsis litteris. Cabe ao professor avaliar caso a caso e efetuar as adaptações que julgar necessárias, levando em consideração o perfil de cada turma específica.

Inúmeras atividades são possíveis visando aumentar o saber lexical dos estudantes. O mais simples é apresentar textos ou enunciados em que haja vocábulos cujos significados lhes sejam eventualmente desconhecidos e pedir que busquem esses vocábulos no dicionário. Também é interessante apresentar textos em que o sentido pode ser depreendido pelo contexto. É um modo de incentivar na turma o hábito de estabelecer relações e extrair conclusões da leitura. Depois, naturalmente, vai-se ao dicionário para ver se a intuição estava correta.

A seguir, apresentamos algumas atividades que favorecem a busca, no dicionário, do sentido desconhecido de um vocábulo, bem como exploram a importância social do conhecimento lexical.

1.  Observe o fragmento a seguir, de um conto de Machado de Assis:

Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Machado de Assis, Missa do galo.

Com base no contexto em que aparecem, aponte o que significa:

a) a expressão à socapa;

Significa “disfarçadamente, dissimuladamente, sem que se veja”. Podemos deduzir tal significado atentando para o fato de que as escravas é que riam desse modo. Não poderiam elas rir “abertamente”, pois seriam repreendidas ou castigadas.

2. Observe a seguinte lista de advérbios:

bisonhamente                    prolixamente                     inexoravelmente

desassombradamente         puerilmente                       ironicamente

estoicamente                     quixotescamente                laconicamente

frugalmente                       radicalmente                     perfunctoriamente

sibilinamente                     sofregamente                    sutilmente

tacitamente

Escolha nesta lista o advérbio mais adequado a cada uma das ações enunciadas a seguir, de acordo com o exemplo:

Falar com orgulho e insolência = arrogantemente

a) Dizer com palavras enigmáticas e difíceis de compreender. (sibilinamente)

b) Falar de maneira franca e corajosa. (desassombradamente)

c) Exprimir-se com palavras excessivas. (prolixamente)

d) Concordar sem dizer palavras. (tacitamente)

e) Agir com a experiência de um principiante. (bisonhamente)

f) Agir com impaciência e ambição. (sofregamente)

g) Agir como criança. (puerilmente)

h) Insinuar com perspicácia e delicadeza. (sutilmente)

i) Eliminar pela base. (radicalmente)

j) Eliminar sem se render a rogos. (inexoravelmente)

Observação: Termos que aparecem na lista, mas não são cobrados nos enunciados (citados pela base adjetiva):

frugal: relativo a frutos; sóbrio, parco, modesto.

quixotesco: ridiculamente pretensioso; ingênuo, romântico, sonhador, trapalhão.

lacônico: conciso, breve, resumido.

perfuntório: que se faz por simples rotina, superficial, ligeiro.

3. Uma das funções mais importantes dos dicionários consiste em nos auxiliar a não repetir desnecessariamente as palavras em um texto. Corremos sempre esse risco, principalmente com certos vocábulos que, por admitirem muitos significados, podem acabar muito repetidos em nossos textos.

É o caso, por exemplo, do verbo fazer, que aparece destacado nos trechos a seguir.

a) O filme Cidade de Deus fez grande sucesso no Brasil, tanto de público quanto de crítica. (obteve)

b) Trabalhava arduamente, quase o dia todo, não tinha realmente tempo de fazer nem o almoço nem o jantar. (preparar)

Uma atividade interessante em sala de aula é solicitar aos próprios alunos que, em grupo, elaborem de duas a três frases com o verbo fazer e depois as troquem entre si. Peça então aos grupos que substituam o verbo por outro, se possível. Em vez de elaborar as frases, os alunos podem buscar exemplos em revistas e jornais.

4. Além de sinônimos, o Dicionário Eletrônico permite também a pesquisa de antônimos.

Muitos verbetes de adjetivos registram antônimos após os diferentes sentidos do vocábulo. Interessante observar que pode haver antônimos distintos conforme a acepção considerada.

É só considerar o caso do adjetivo velho:

a) A história de minha família estava escrita num velho livro que se perdeu com o tempo.

b) A jornalista queria entrevistar o homem mais velho da cidade.

Apresente antônimos distintos para o vocábulo velho, atentando para o sentido que adquire em cada frase.

Para a primeira frase, novo. Para a segunda, jovem.

5. Uma atividade lúdica interessante para fazer com a turma (ou mesmo em casa) é o jogo do dicionário, ideal para jogar com ao menos 5 ou 6 pessoas. Na sala de aula, pode envolver grupos de alunos.

Uma pessoa (ou grupo) escolhe um vocábulo do dicionário cujo significado, acredita, os demais participantes desconhecem. Diz a palavra para os outros. Todos, então, escrevem num pedaço de papel o significado que supõem que o vocábulo possua. Como não o conhecem, terão de inventar. A pessoa que está de posse do dicionário também escreve, naturalmente, o sentido adequado.

Em seguida, os papéis são misturados e lidos. Cada participante (pessoa ou grupo) vota em qual sentido acha que é o correto. O participante que acertar ganha um ponto. Mas o participante que receber votos para o sentido que inventou também recebe pontos.

Com isso, os participantes têm o interesse de, mesmo desconhecendo o sentido do vocábulo, criar sentidos verossímeis, para receber votos dos demais.

Fica sempre um gosto amargo na boca que critica. A crítica pesa.​ Mesmo que pareça ser

reflita antes de proferi-la. Examine. Pondere. Pense nas condições de quem será criticado,

justa,no que sentirá, nos efeitos, nos meios que tem para se corrigir e ame.

Releve, sempre que possível. Veja -se no lugar de quem é criticado.Será que você

 não merece alguma censura? Como reagiria, na mesma situação? ​Se alguém sofre,

não lhe acrescente dores.​ A acusação, a crítica, a repreensão sem amor são fel na boca.

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