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MODULO III

Interpretação e produção de textos

Textos literários, jornalísticos, de informação científica, instrucionais, epistolares, humorísticos e publicitários

Interpretação de Textos

TEORIA e 800 QUESTÕES COMENTADAS

6ª EDIÇÃO

Apresentação

NÃO DEIXE DE LER!

A interpretação de textos, tão comum em provas de Português, sempre foi um martírio para os alunos ou candidatos a concursos públicos ou vestibulares.

A dificuldade é geral e, com certeza, oriunda da falta de treinamento. As pessoas têm pouca disposição de mergulhar no texto; elas conseguem, obviamente, lê-lo, mas não aprofundam a leitura, não extraem dele aquelas informações que uma leitura superficial, apressada, não permite.

 

Ao tentar resolver o problema, as pessoas buscam os materiais que julgam poder ajudá-las. Caem, então, no velho vício de ler teoria em excesso, estudar coisas que nem sempre dizem respeito à compreensão e interpretação dos textos. Cansadas, não fazem o essencial: ler uma grande quantidade de textos — e tentar interpretá-los.

 

Este material que chega às suas mãos é extremamente prático. A teoria apresentada é pequena, mas deve ser estudada com boa vontade e disposição de aprender. Depois, você vai encontrar uma enorme quantidade de textos, 112, para ser preciso. São 815 questões, mais de 4000 itens, todos comentados.

 

Fundamental é que você os leia na ordem em que são apresentados, resolvendo com atenção máxima as questões propostas. Começa-se por textos muito curtos, uma ou duas linhas, e vai-se aumentando, tanto em tamanho quanto em dificuldade. Cabe ainda ressaltar que não tivemos a preocupação de distinguir interpretação de compreensão. Levando-se em conta o objetivo da obra, isso seria absolutamente inútil.

 

Não tenha medo da interpretação de textos. Como qualquer outra atividade intelectual, ela pede paciência e boa vontade. Não tente fazer apressadamente, pois isso prejudicará o seu estudo. Talvez o mais difícil seja começar. Depois, acredite, vem o progresso, objetivo maior de todos nós.

 

O Autor

Palavras da Coordenação da Obra

 

Você acha que não tem condições de estudar interpretação de textos? Está cansado de ser reprovado nas provas de Língua Portuguesa? Você, sinceramente, acredita que nunca vai conseguir entender o uso correto das figuras de linguagem ou alcançar o que dizem as famosas entrelinhas? Isso lhe tem causado uma enorme sensação de impotência e desânimo?

 

Agora, estes problemas já podem acabar!

 

A Editora Campus/Elsevier, orgulhosamente, apresenta a terceira obra do Professor Renato Aquino.

 

Nela, o leitor-candidato encontrará respaldo necessário para resolver provas e, consequentemente, ter êxito em diversos concursos públicos, afastando de vez o fantasma da reprovação.

 

Isso mesmo! Logo nas primeiras páginas, você perceberá que não se trata apenas de mais um manual de interpretação de textos; antes, é um estímulo de auto-ajuda, que vai ensiná-lo a resolver todas aquelas deficiências que sempre o acompanharam e impediam-no de desenvolver técnicas de redação e interpretação, aplicáveis não somente em provas de Língua Portuguesa, mas na compreensão dos enunciados de questões de qualquer disciplina.

 

Em trabalho minucioso, o Autor selecionou textos em ordem crescente de complexidade, além de mais de oitocentas questões, todas com gabarito criteriosamente comentado. Enfocando as variadas tendências, de acordo com as diversas bancas examinadoras, a obra é um verdadeiro marco na preparação de candidatos em geral.

 

Outro aspecto a ser ressaltado é a sua universalidade: tanto pode ser adotada em colégios, quanto em cursos preparatórios, haja vista que abrange concursos de nível médio e superior. Em síntese: trata-se de um livro útil para todos aqueles que queiram ou precisem aperfeiçoar seus conhecimentos de Língua Portuguesa.

 

A partir de agora, você dispõe de um instrumento eficaz e decisivo para o seu sucesso, tanto pessoal quanto profissional.

 

Bom proveito. Sylvio Motta:

Sumário

Parte 1 - INTERPRETAÇÃO II 119

 

COESÃO E COERÊNCIA. CONECTORES

Parte 1

GENERALIDADES 1

INTERPRETAÇÃO I 41

EXPLICAÇÕES PRELIMINARES

I) Para interpretar bem: Todos têm dificuldades com interpretação de textos. Encare isso como algo normal, inevitável. Importante é enfrentar o problema e, com segurança, progredir. Aliás, progredir muito. Leia com atenção os itens abaixo.

 

1) Desenvolva o gosto pela leitura. Leia de tudo: jornais, revistas, livros, textos publicitários, listas telefônicas, bulas de remédios etc. Enfim, tudo o que estiver ao seu alcance. Mas leia com atenção, tentando, pacientemente, apreender o sentido. O mal é “ler por ler”, para se livrar.

 

2) Aumente o seu vocabulário. Os dicionários são amigos que precisamos consultar. Faça exercícios de sinônimos e antônimos. (Consulte o nosso Redação para Concursos, que tem uma seção dedicada a isso.)

 

3) Não se deixe levar pela primeira impressão. Há textos que metem medo. Na realidade, eles nos oferecem um mundo de informações que nos fornecerão grande prazer interior. Abra sua mente e seu coração para o que o texto lhe transmite, na qualidade de um amigo silencioso.

 

4) Ao fazer uma prova qualquer, leia o texto duas ou três vezes, atentamente, antes de tentar responder a qualquer pergunta. Primeiro, é preciso captar sua mensagem, entendê- lo como um todo, e isso não pode ser alcançado com uma simples leitura. Dessa forma, leia-o algumas vezes. A cada leitura, novas ideias serão assimiladas. Tenha a paciência necessária para agir assim. Só depois tente resolver as questões propostas.

 

5) As questões de interpretação podem ser localizadas (por exemplo, voltadas só para um determinado trecho) ou referir-se ao conjunto, às idéias gerais do texto. No primeiro caso, leia não apenas o trecho (às vezes uma linha) referido, mas todo o parágrafo em que ele se situa. Lembre-se: quanto mais você ler, mais entenderá o texto. Tudo é uma questão de costume, e você vai acostumar-se a agir dessa forma. Então - acredite nisso - alcançará seu objetivo.

 

6) Há questões que pedem conhecimento fora do texto. Por exemplo, ele pode aludir a uma determinada personalidade da história ou da atualidade, e ser cobrado do aluno ou candidato o nome dessa pessoa ou algo que ela tenha feito. Por isso, é importante desenvolver o hábito da leitura, como já foi dito. Procure estar atualizado, lendo jornais e revistas especializadas.

 

II) Paráfrase Chama-se paráfrase a reescritura de um texto sem alteração de sentido. Questões de interpretação com frequência se baseiam nesse conhecimento, nessa técnica. Vários recursos podem ser utilizados para parafrasear um texto. 3

 

1) Emprego de sinônimos. Ex.: Embora voltasse cedo, deixava os pais preocupados. Conquanto retornasse cedo, deixava os genitores preocupados.

 

2) Emprego de antônimos, com apoio de uma palavra negativa. Ex.: Ele era fraco. Ele não era forte.

 

3) Utilização de termos anafóricos, isto é, que remetem a outros já citados no texto. Ex.: Paulo e Antônio já saíram. Paulo foi ao colégio; Antônio, ao cinema. Paulo e Antônio já saíram. Aquele foi ao colégio; este, ao cinema. Aquele = Paulo este = Antônio

 

4) Troca de termo verbal por nominal, e vice-versa. Ex.: É necessário que todos colaborem. É necessária a colaboração de todos. Quero o respeito do grupo. Quero que o grupo me respeite.

 

5) Omissão de termos facilmente subentendidos. Ex.: Nós desejávamos uma missão mais delicada, mais importante. Desejávamos missão mais delicada e importante.

 

6) Mudança de ordem dos termos no período. Ex.: Lendo o jornal, cheguei à conclusão de que tudo aquilo seria esquecido após três ou quatro meses de investigação. Cheguei à conclusão, lendo o jornal, de que tudo aquilo, após três ou quatro meses de pesquisa, seria esquecido.

 

7) Mudança de voz verbal Ex.: A mulher plantou uma roseira em seu jardim. (voz ativa) Uma roseira foi plantada pela mulher em seu jardim. (voz passiva analítica) Obs.: Se o sujeito for indeterminado (verbo na 3ª pessoa do plural sem o sujeito expresso na frase), haverá duas mudanças possíveis. Ex.: Plantaram uma roseira. (voz ativa) Uma roseira foi plantada. (voz passiva analítica) Plantou-se uma roseira. (voz passiva sintética)

 

8) Troca de discurso. Ex.: Naquela tarde, Pedro dirigiu-se ao pai dizendo: - Cortarei a grama sozinho. (discurso direto) Naquela tarde, Pedro dirigiu-se ao pai dizendo que cortaria a grama sozinho. (discurso indireto)

 

9) Troca de palavras por expressões perifrásticas (vide perífrase, no capítulo seguinte) e vice-versa Ex.: Castro Alves visitou Paris naquele ano. O poeta dos escravos visitou a cidade luz naquele ano.

 

10) Troca de locuções por palavras e vice-versa: Ex.: O homem da cidade não conhece a linguagem do céu. O homem urbano não conhece a linguagem celeste. Da cidade e do céu são locuções adjetivas e correspondem aos adjetivos urbano e celeste. É importante conhecer um bom número de locuções adjetivas. Consulte o assunto em nosso livro Redação para Concursos. Numa paráfrase, vários desses recursos podem ser utilizados concomitantemente, além de outros que não foram aqui referidos, mas que a prática nos apresenta. O importante é ler com extrema atenção o trecho e suas possíveis paráfrases. Se perceber mudança de sentido, a reescritura não pode ser considerada uma paráfrase. Há muitas questões de provas baseadas nisso. Vamos então fazer um exercício. Leia com atenção o trecho abaixo e anote a alternativa em que não ocorre uma paráfrase.

 

O homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado, por não reconhecer no seu íntimo a importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.

a) Freqüentemente sem rumo, segue o homem pela vida, por não reconhecer no seu íntimo o valor de todos os instantes, de todas as coisas, sejam simples ou grandiosas.

 

b) Não reconhecendo em seu âmago a importância de todos os momentos, de todas as coisas, simples ou grandiosas, o homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado.

 

c) Como não reconhece no seu íntimo o valor de todos os momentos, de todas as coisas, sejam elas simples ou não, o homem vai pela vida freqüentemente desnorteado.

 

d) O ser humano segue, com freqüência, vida afora, sem rumo, porquanto não reconhece, em seu interior, a importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.

 

e) O homem caminha pela vida sempre desnorteado, por não reconhecer, em seu mundo íntimo, o valor de cada momento, de cada coisa, seja ela simples ou grandiosa. O trecho foi reescrito cinco vezes. Utilizaram-se vários recursos. Em quatro opções, o sentido é rigorosamente o mesmo. Tal fato não se dá, porém, na letra e, que 5 seria o gabarito. O texto original diz que “o homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado...”, contudo a reescritura nos diz “sempre desnorteado”. Ora, muitas vezes é uma coisa, sempre é outra, bem diferente.

 

Observações:

a) Tenha cuidado com a mudança de posição dos termos dentro da frase. Palavras ou expressões podem alterar profundamente o sentido de um texto. Ex.: Encontrei determinadas pessoas naquela cidade. Encontrei pessoas determinadas naquela cidade. Na primeira frase, determinadas é um pronome indefinido, equivalente a certas, umas, algumas; na segunda, é um adjetivo e significa decididas.

b) Cuidado também com a pontuação, que costuma passar despercebida.

Ex.: A criança agitada corria pelo quintal. A criança, agitada, corria pelo quintal. Na primeira frase, o adjetivo agitada indica uma característica da criança, algo inerente a ela, isto é, trata-se de uma pessoa sempre agitada. Na segunda, as vírgulas indicam que a criança está agitada naquele momento, sem que necessariamente ela o seja no seu dia-a-dia.

Capítulo 2 Denotação e conotação. Figuras 6

Capítulo 3 Coesão e coerência. Conectores 14

Capítulo4Tipologia textual 27

Capítulo 5 Significação das palavras 31

Capítulo 6 A prática 37

 

Parte 2 - INTERPRETAÇÃO I 42

 

DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO.

 

FIGURAS

I) Denotação: Consultando o dicionário Houaiss, encontramos para a palavra joia as seguintes definições:

1- objeto de metal precioso finamente trabalhado, em que muitas vezes se engastam pedras preciosas, pérolas etc. ou a que é aplicado esmalte, usado como acessório de vestuário, adorno de cabeça, pescoço, orelhas, braços, dedos etc.

2- Pedra preciosa de grande valor.

3- extensivo a qualquer objeto caro e trabalhado com arte (estatueta, relógio, cofre, vaso etc). As definições são claras, precisas. Todas giram em torno de um objeto de valor. A partir dessas definições, podemos criar frases com muita segurança. Ex.: Essa jóia em seu pescoço está há várias gerações em nossa família. O rubi é uma jóia que encanta meus olhos. Aquele vaso, provavelmente chinês, é uma jóia de raro acabamento. A palavra jóia, presente nas três frases citadas, foi empregada em seus sentidos reais, primitivos.

A isso se dá o nome de denotação.

 

II) Conotação: Voltando ao dicionário citado, encontramos na seqüência da leitura o seguinte:

 

4 fig. pessoa ou coisa muito boa e querida (sua sobrinha é uma jóia. O próprio dicionarista nos dá um exemplo. Vejamos outras frases abaixo. Ela é uma jóia de menina. Que jóia esse cachorrinho! Minha irmã se tornou uma jóia muito especial. Observe que, em todas as frases, a palavra jóia extrapolou o sentido original de objeto caro. Ela está se referindo a pessoas e animais, que, na realidade, não podem ser jóias, se levarmos em conta o sentido denotativo do termo. Há uma comparação implícita em cada frase: bonito ou bonita como uma jóia. Dizemos então que se trata de conotação.

 

7 Vamos comparar as duas frases abaixo: Comi uma fruta deliciosa. Ela escreveu uma frase deliciosa. Na primeira, o adjetivo deliciosa está empregado denotativamente, pois indica o gosto agradável da fruta; trata-se do sentido real do termo. Na segunda, o adjetivo não pode ser entendido “ao pé da letra”, uma vez que frase não tem gosto, não tem sabor. É um emprego especial, estilístico da palavra deliciosa. Assim, ela está usada conotativamente. Muitas vezes, as perguntas de interpretação se voltam para o emprego denotativo ou conotativo dos vocábulos. E mais: o entendimento global do texto pode depender disso. Leia-o, pois, com atenção. A leitura atenta é tudo.

 

III) Figuras de linguagem As figuras constituem um recurso especial de construção, valorizando e embelezando o texto. Há questões de provas, inclusive em concursos públicos, que cobram, direta ou indiretamente, o emprego adequado da linguagem figurada. Vejamos as mais importantes, que você não pode desconhecer. Elas não serão, aqui, agrupadas de acordo com sua natureza: de palavras, de pensamento e de sintaxe. Não há importância nessa distinção, para interpretarmos um texto.

1) Comparação ou simile Consiste, como o próprio nome indica, em comparar dois seres, fazendo uso de conectivos apropriados. Ex.: Esse liqüido é azedo como limão. A jovem estava branca qual uma vela.

2) Metáfora Tipo de comparação em que não aparecem o conectivo nem o elemento comum aos seres comparados. Ex.: “Minha vida era um palco iluminado...” (Minha vida era alegre, bonita etc. como um palco iluminado.) Tuas mãos são de veludo. (Entenda-se: mãos macias como o veludo) “A vida, manso lago azul...” (Júlio Salusse) (Neste exemplo, nem o verbo aparece, mas é clara a ideia da comparação: a vida é suave, calma como um manso lago azul.)

3) Metonímia 8 Troca de uma palavra por outra, havendo entre elas uma relação real, concreta, objetiva. Há vários tipos de metonímia. Ex.: Sempre li Érico Veríssimo, (o autor pela obra) Ele nunca teve o seu próprio teto. (a parte pelo todo) Cuidemos da infância. (o abstrato pelo concreto: infância / crianças) Comerei mais um prato. (o continente pelo conteúdo) Ganho a vida com meu suor. (o efeito pela causa)

 

4) Hipérbole Consiste em exagerar as coisas, extrapolando a realidade. Ex.: Tenho milhares de coisas para fazer. Estava quase estourando de tanto rir. Vive inundado de lágrimas.

5) Eufemismo É a suavização de uma ideia desagradável. Chamado de linguagem diplomática. Ex.: Minha avozinha descansou. (morreu) Ele tem aquela doença. (câncer) Você não foi feliz com suas palavras. (foi estúpido, grosseiro)

 

6) Prosopopeia ou personificação Consiste em se atribuir a um ser inanimado ou a um animal ações próprias dos seres humanos. Ex. A areia chorava por causa do calor. As flores sorriam para ela.

 

7) Pleonasmo Repetição enfática de um termo ou de uma ideia. Ex.: O pátio, ninguém pensou em lavá-lo. (lo = O pátio) Vi o acidente com olhos bem atentos. (Ver só pode ser com os olhos.)

 

8) Anacoluto É a quebra da estruturação sintática, de que resulta ficar um termo sem função sintática no período. É parecido com um dos tipos de pleonasmo. Ex.: O jovem, alguém precisa falar com ele. Observe que o termo O jovem pode ser retirado do texto. Ele não se encaixa sintaticamente no período. Caso disséssemos Com o jovem, teríamos um pleonasmo: com o jovem = com ele.

 

9) Antítese Emprego de palavras ou expressões de sentido oposto. Ex.: Era cedo para alguns e tarde para outros. “Não és bom, nem és mau: és triste e humano.” (Olavo Bilac)

 

10) Sinestesia Consiste numa fusão de sentidos. Ex.: Despertou-me um som colorido. (audição e visão) Era uma beleza fria. (visão e tato)

 

11) Catacrese É a extensão de sentido que sofrem determinadas palavras na falta ou desconhecimento do termo apropriado. Essa extensão ocorre com base na analogia. Por isso, ela é uma variação da metáfora. Ex.: Leito do rio. Dente de alho. Barriga da perna. Céu da boca. Curiosas são as catacreses constituídas por verbos: embarcar num trem, enterrar uma agulha no dedo etc. Embarcar é entrar no barco, não no trem; enterrar é entrar na terra, não no dedo.

 

12) Hipálage Adjetivação de um termo em vez de outro. Ex.: O nado branco dos cisnes o fascinou, (brancos são os cisnes) Acompanhava o vôo negro dos urubus, (negros são os urubus)

 

13) Quiasmo Ao mesmo tempo repetição e inversão de termos, podendo haver algumas alterações. Ex.: “No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho “(C. D. Andrade) “Vinhas fatigada e triste, e triste e fatigado eu vinha.” (Olavo Bilac) 

 

14) Silepse Concordância anormal feita com a ideia que se faz do termo e não com o próprio termo. Pode ser: a) de gênero Ex.: V Sa é bondoso. A concordância normal seria bondosa, já que V. Sa é do gênero feminino. Fez-se a concordância com a ideia que se possui, ou seja, trata-se de um homem. b) de número Ex.: O grupo chegou apressado e conversavam em voz alta. O segundo verbo do período deveria concordar com grupo. Mas a idéia de plural contida no coletivo leva o falante a botar o verbo no plural: conversavam. Tal concordância anormal não deve ser feita com o primeiro verbo. c) de pessoa. Ex.: Os brasileiros somos otimistas. Em princípio, dir-se-ia são, pois o sujeito é de terceira pessoa do plural. Mas, por estar incluído entre os brasileiros, é possível colocar o verbo na primeira pessoa: somos.

 

15) Perífrase Emprego de várias palavras no lugar de poucas ou de uma só. Ex.: “Se lá no assento etéreo onde subiste...” (Camões) assento etéreo = céu. Morei na Veneza brasileira. Veneza brasileira = Recife Não provoque o rei dos animais. rei dos animais = leão.4 Obs.: Questões que envolvem perífrase pedem, freqüentemente, conhecimento independente do texto.

 

16) Assíndeto Ausência de conectivo. É um tipo especial de elipse, que é a omissão de qualquer termo. 5 Ex.: Entrei, peguei o livro, fui para a rede. Ligando as duas últimas orações, deveria aparecer a conjunção e.

 

17) Polissíndeto Repetição da conjunção, geralmente e. Ex.: “Trejeita, e canta, e ri nervosamente.” 6 (Padre Antônio Tomás) “E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta.” (Olavo Bilac)

 

18) Zeugma Omissão de um termo, geralmente verbo, empregado anteriormente. Variação da elipse. Ex.: “A moral legisla para o homem; o direito, para o cidadão.” (Tomás Ribeiro) “São estas as tradições das nossas linhagens; estes os exemplos de nossos avós.” 7 (Herculano) Obs.:Na primeira frase, está subentendida a forma verbal legisla; na segunda, são.

 

19) Apóstrofe Chamamento, invocação de alguém ou algo, presente ou ausente. Corresponde ao vocativo da análise sintática. Ex.: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?!” 8 (Castro Alves) “Erguei-vos, menestréis, das púrpuras do leito!” (Guerra Junqueiro)

 

20) Ironia Consiste em dizer-se o contrário do que se quer. É figura muito importante para a interpretação de textos. Ex.: “Moça linda bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta, um amor.” 9 (Mário de Andrade) Observe que, após chamar a moça de burra, o poeta encerra a estrofe com um aparente elogio: um amor.

 

21) Hipérbato É a inversão da ordem dos termos na oração ou das orações no período. Ex.: “Aberta em par estava a porta.” (Almeida Garrett) “Essas que ao vento vêm Belas chuvas de junho!” (Joaquim Cardozo)

 

22) Anástrofe Variante do hipérbato. Consiste em se inverter a ordem natural existente entre o termo determinado (principal) e o determinante (acessório). 10 Ex.: Sentimos do vento a carícia. Determinado: a carícia Determinante: do vento Obs.: Nem sempre é simples a distinção entre hipérbato e anástrofe. Há certa discordância entre os especialistas do assunto.

 

23) Onomatopéia Palavra que imita sons da natureza. Ex.: O ribombar dos canhões nos assustava. Não agüentava mais aquele tique-taque insistente. “Não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.” 11 (Machado de Assis)

 

24) Aliteração Repetição de fonemas consonantais. Ex.: Nem toda tarefa é tão tranqüila. “Ruem por terra as emperradas portas.” (Bocage) “Os teus grilhões estrídulos estalam.” (Raimundo Correia) 12 Obs.: Nos dois últimos exemplos, as aliterações procuram reproduzir, sons naturais, constituindo-se também em onomatopéias.

 

25) Enálage Troca de tempos verbais. Ex.: Se você viesse, ganhava minha vida mais entusiasmo, Agora que murcharam teus loureiros Fora doce em teu seio amar de novo.” (Álvares de Azevedo) 13 Obs.: Na primeira frase, ganhava está no lugar de ganharia; na segunda, fora substitui seria.

Parte 3 - INTERPRETAÇÃO II 119

 

COESÃO E COERÊNCIA. CONECTORES

 

I) Coesão e coerência: O texto é um conjunto harmônico de elementos, associados entre si por processos de coordenação ou subordinação. Os fonemas (sons da fala), representados graficamente pelas letras, se unem constituindo as palavras. Estas, por sua vez, ligam-se para formar as orações, que passam a se agrupar constituindo os períodos. A reunião de períodos dá origem aos parágrafos. Estes também se unem, e temos então o conjunto final, que é o texto. No meio de tudo isso, há certos elementos que permitem que o texto seja inteligível, com suas partes devidamente relacionadas. Se a ligação entre as partes do texto não for bem feita, o sentido lógico será prejudicado. Observe atentamente o trecho seguinte.

 

"Levantamos muito cedo. Fazia frio e a água havia congelado nas torneiras. Até os animais, acostumados com baixas temperaturas, permaneciam, preguiçosamente, em suas tocas. Apesar disso, deixamos de fazer nossa caminhada matinal com as crianças."

 

O trecho é composto por vários períodos, agrupados em dois segmentos distintos. No primeiro, fala-se do frio intenso e suas conseqüências; no segundo, a decisão de não fazer a caminhada matinal. O que aparece para fazer a ligação entre esses dois segmentos? A locução apesar disso. Ora, esse termo tem valor concessivo, liga duas coisas contraditórias, opostas; mas o que segue a ele é uma conseqüência do frio que fazia naquela manhã. Dessa forma, no lugar de apesar disso, deveríamos usar por isso, por causa disso, em virtude disso etc. Conclui-se o seguinte: as partes do texto não estavam devidamente ligadas. Diz-se então que faltou coesão textual. Conseqüentemente, o trecho ficou sem coerência, isto é, sem sentido lógico. Resumindo, podemos dizer que a coesão é a ligação, a união entre partes de um texto; coerência é o sentido lógico, o nexo.

 

II) Elementos conectores: É extremamente importante, para que se penetre no texto, uma noção segura dos recursos de que a língua dispõe para estabelecer a coesão textual. Aliás, esse termo é ainda mais amplo: qualquer vínculo estabelecido entre as palavras, as orações, os períodos ou os parágrafos podemos chamar de coesão. Toda palavra ou expressão que se refere a coisas passadas no texto, ou mesmo às que ainda virão, são elementos conectores. Os termos a que eles se referem 15 podem ser chamados de referentes. Muita atenção, pois, com os conectores. Eis os mais importantes:

 

1) Pronomes pessoais, retos ou oblíquos:  Ex.: Meu filho está na escola. Ele tem uma prova hoje. Ele = meu filho (referente) Carlos trouxe o memorando e o entregou ao chefe. O = memorando (referente)

 

2) Pronomes possessivos:  Ex.: Pedro, chegou a sua maior oportunidade. Sua = Pedro (de Pedro)

 

3) Pronomes demonstrativos:  Os demonstrativos estão entre os mais importantes conectores da língua portuguesa. Freqüentemente se criam questões de interpretação ou compreensão com base em seu emprego. Veja os casos seguintes:

a) O filho está demorando, e isso preocupa a mãe. Isso = O filho está demorando.

b) Isto preocupa a mãe: o filho está demorando. Isto = o filho está demorando. Parecidos, não é mesmo? A diferença é que isso (esse, esses, essa, essas) é usado para fazer referência a coisas ou fatos passados no texto. Isto (este, estes, esta, estas) refere-se a coisas ou fatos que ainda aparecerão. Embora se faça uma certa confusão hoje em dia, o seu emprego adequado é exatamente o que acabamos de expor.

c) O homem e a mulher estavam sorrindo. Aquele porque foi promovido; esta por ter recebido um presente. Aquele = homem esta = mulher Temos aqui uma situação especial de coesão: evitar a repetição de termos por meio do emprego de este (estes, esta, estas) e aquele (aqueles, aquela, aquelas). Não se usa, aqui, o pronome esse (esses, essa, essas). Com relação ao exemplo, a palavra aquele refere-se ao termo mais afastado (homem), enquanto 16 esta, ao mais próximo (mulher). Semelhante correlação também pode ser feita com numerais (primeiro e segundo) ou com pronomes indefinidos (um e outro).

 

4) Pronomes indefinidos: Ex.: Naquela época, os homens, as mulheres, as crianças, todos acreditavam na vitória. todos = homens, mulheres, crianças

 

5) Pronomes relativos Ex.: Havia ali pessoas que me ajudavam. que = pessoas No caso do pronome relativo, o seu referente costuma ser chamado de antecedente.

 

6) Pronomes interrogativos: Ex.: Quem será responsabilizado? O rapaz do almoxarifado, por não ter conferido os materiais. Quem = rapaz do almoxarifado

 

7) Substantivos: Ex.: José e Helena chegaram de férias. Crianças ainda, não entendem o que aconteceu com o professor. Crianças = José e Helena

 

8) Advérbios: Ex.: A faculdade ensinou-o a viver. Lá se tornou um homem. Lá = faculdade

 

9) Preposições:  As preposições ligam palavras dentro de uma mesma oração. Em casos excepcionais, ligam duas orações. Elas não possuem referentes no texto, simplesmente estabelecem vínculos. Ex.: Preciso de ajuda. Morreu de frio. Nas duas frases, a preposição liga um verbo a um substantivo. Na primeira, em que introduz um objeto indireto (complemento verbal com 17 preposição exigida pelo verbo), ela é destituída de significado. Diz-se que tem apenas valor relacional. Na segunda, em que introduz um adjunto adverbial, ela possui valor semântico ou nocional, uma vez que a expressão que ela inicia tem um valor de causa. Veja, a seguir, os principais valores semânticos das preposições. • De causa Ex.: Perdemos tudo com a seca. • De matéria Ex.: Trouxe copos de papel. • De assunto Ex.: Falavam de política. • De fim ou finalidade Ex.: Vivia para o estudo. • De meio Ex.: Falaram por telefone. • De instrumento Ex.: Feriu-se com a tesoura. • De condição Ex.: Ele não vive sem feijão. • De posse Ex.: Achei o livro de André. • De modo Ex.: Agiu com tranqüilidade. • De tempo Ex.: Retornaram de manhã. • De companhia Ex.: Passeou com a irmã. 18 • De afirmação Ex.: Irei com certeza. • De lugar Ex.: Ele veio de casa.

 

10) Conjunções e locuções conjuntivas:  Conjunção é a palavra que liga duas orações ou, em poucos casos, dois elementos de mesma natureza. Pode-se entender também como a palavra que introduz uma oração, que pode ser coordenada ou subordinada. Não vai nos interessar aqui essa distinção. Se desejar, consulte o nosso livro Português para Concursos. É sumamente importante para a interpretação e a compreensão de textos o conhecimento das conjunções e locuções correspondentes. Chamaremos a todas, simplesmente, conjunções. Da mesma forma que as preposições, as conjunções não têm referentes propriamente ditos. Cumpre reconhecer o valor de cada uma, para que se entenda o sentido das orações em português e, consequentemente, do texto em que elas aparecem. Conjunções coordenativas São as que iniciam orações coordenadas. Podem ser:

 

1) Aditivas: estabelecem uma adição, somam coisas ou orações de mesmo valor. Principais conjunções: e, nem, mas também, como também, senão também, como, bem como, quanto. Ex.: Fechou a porta e foi tomar café. Não trabalha nem estuda. Tanto lê como escreve. Não só pintava, mas também fazia versos. Não somente lavou, como também escovou os cães.

 

2) Adversativas: estabelecem idéias opostas, contrastantes. Principais conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante, senão, que. Ex.: Correu muito, mas não se cansou. As árvores cresceram, porém não estão bonitas. Falou alto, todavia ninguém escutou. Chegamos com os alimentos, no entanto não estavam com fome. Não o culpo, senão a você. Peça isso a outra pessoa, que não a mim. 19 Observações

 

a) Em todas as frases há ideia de oposição. Se a pessoa corre muito, deve ficar cansada. A palavra mas introduz uma oração que contraria isso. O mesmo ocorre com as outras conjunções e suas respectivas orações.

b) Às vezes, a palavra e, normalmente aditiva, assume valor adversativo. Ex.: Fiz muito esforço e nada consegui, (mas nada consegui)

 

3) Conclusivas: estabelecem conclusões a partir do que foi dito inicialmente. Principais conjunções: logo, portanto, por conseguinte, pois (colocada depois do verbo), por isso, então, assim, em vista disso. Ex.: Chegou muito cedo, logo não perdeu o início do espetáculo. Todos foram avisados, portanto não procedem as reclamações. É bastante cuidadoso; consegue, pois, bons resultados. Estava desanimado, por conseguinte deixou a empresa. É trabalhador, então só pode ser honesto.

 

4) Alternativas: ligam idéias que se alternam ou mesmo se excluem. Principais conjunções: ou, ou...ou, ora...ora, já...já, quer...quer. Ex.: Faça sua parte, ou procure outro emprego. Ora narrava, ora comentava. “Já atravessa as florestas, já chega aos campos do Ipu.” (José de Alencar)

 

5) Explicativas: explicam ou justificam o que se diz na primeira oração. Principais conjunções: porque, pois, que, porquanto. Ex.: Chorou muito, porque os olhos estão inchados. Choveu durante a madrugada, pois o chão está alagado. Volte logo, que vai chover. Era uma criança estudiosa, porquanto sempre tirava boas notas. Observações

 

a) Essas conjunções também podem iniciar orações subordinadas causais, como veremos adiante.

b) Depois de imperativo, elas só podem ser coordenativas explicativas, como no terceiro exemplo:Conjunções subordinativas São as que iniciam as orações subordinadas. Podem ser:

 

1) Causais: iniciam orações que indicam a causa do que está expresso na oração principal. Principais conjunções: porque, pois, que, porquanto, já que, uma vez que, como, visto que, visto como. Ex.: O gato miou porque pisei seu rabo. Estava feliz pois encontrou a bola. Triste que estava, não quis passear. Já que me pediram, vou continuar. Visto que vai chover, sairemos agora mesmo. Como fazia frio, pegou o agasalho.

 

2) Condicionais: introduzem orações que estabelecem uma condição para que ocorra o que está expresso na oração principal. Principais conjunções: se, caso, desde que, a menos que, salvo se, sem que, contanto que, dado que, uma vez que. Ex.: Explicarei a situação, se isso for importante para todos. Caso me solicitem, escreverei uma nova carta. Você será aprovado, desde que se esforce mais. Sem que digas a verdade, não poderemos prosseguir. Contanto que todos participem da reunião, os projetos serão apresentados. Uma vez que ele tente, poderá alcançar o objetivo.

 

3) Concessivas: começam orações com valor de concessão, isto é, ideia contrária à da oração principal. Cuidado especial com essas conjunções! Elas são bastante cobradas em questões de provas. Principais conjunções: embora, ainda que, mesmo que, conquanto, posto que, se bem que, por mais que, por menos que, suposto que, apesar de que, sem que, que, nem que. Ex.:

- Embora gritasse, não foi atendido.

- Perderia a condução mesmo que acordasse cedo.

- Conquanto estivesse com dores, esperou pacientemente.

- Posto que me tenham convidado com insistência, não quis participar.

- Por mais que tentem explicar, o caso continua confuso.

- Sem que tenha grandes virtudes, é adorado por todos.

- Doente que estivesse, participaria da maratona.

- Fale, nem que seja por um minuto apenas.

 

4) Comparativas: introduzem orações com valor de comparação. 21 Principais conjunções:

 

como, (do) que, qual, quanto, feito, que nem. Ex.: Ele sempre foi ágil como o pai. Maria estuda mais que a irmã. (ou do que) Nada o entristecia tanto quanto o sofrimento de seu povo. Estava parado feito uma estátua. Rastejávamos que nem serpentes. Ele agiu tal qual eu lhe pedira. Observações:

 

a) Geralmente o verbo da oração comparativa é o mesmo da principal e fica subentendido. É o que ocorre nos cinco primeiros exemplos.

b) As conjunções feito e que nem são de emprego coloquial.

 

5) Conformativas: principiam orações com valor de acordo em relação à principal. Principais conjunções: conforme, segundo, consoante, como. Ex.:

 

Fiz tudo conforme me solicitaram.

Segundo nos contaram, o jogo foi anulado.

Pedro tomou uma decisão consoante determinava a sua consciência.

Carlos é inteligente como os pais sempre afirmaram.

 

6) Consecutivas: iniciam orações com valor de conseqüência. Principais conjunções: que (depois de tão, tal, tanto, tamanho, claros ou ocultos), de sorte que, de maneira que, de modo que, de forma que. Ex.: Falou tão alto que acordou o vizinho. Gritava que era uma barbaridade. (Gritava tanto...) Eu lhe expliquei tudo, de modo que não há motivos para discussão.

 

7) Proporcionais: começam orações que estabelecem uma proporção. Principais conjunções: à proporção que, à medida que, ao passo que, quanto (em correlações do tipo quanto mais...mais, quanto menos...menos, quanto mais...menos, quanto menos...mais, quanto maior...maior, quanto menor...menor). Ex.:

 

- Seremos todos felizes à proporção que amarmos.

- À medida que o tempo passava, crescia a nossa expectativa.

- O ar se tornava rarefeito ao passo que subíamos a montanha.

- Quanto mais nos preocuparmos, mais ficaremos nervosos.

- Quanto menos estudamos, menos progredimos.

- Quanto maior for o preparo, maior será a oportunidade.

 

8) Finais: introduzem orações com valor de finalidade. Principais conjunções: para que, a fim de que, que, porque. Ex.: Fechou a porta para que os animais não entrassem. Trarei minhas anotações a fim de que você me ajude. Faço votos que sejas feliz. (= para que) Esforcei-me porque tudo desse certo. (= para que)

9) Temporais: introduzem orações com valor de tempo. Principais conjunções: quando, assim que, logo que, antes que, depois que, mal, apenas, que, desde que, enquanto. Ex.: Cheguei quando eles estavam saindo. Assim que anoiteceu, fomos para casa. Sentiu-se aliviado depois que tomou o remédio. Mal a casa foi reformada, a família se mudou. Hoje, que não tenho tempo, chegaram as propostas. Estávamos lá desde que ele começou a lecionar. Enquanto o filho estudava, a mãe fazia comida.

 

10) Integrantes: são as únicas desprovidas de valor semântico; iniciam orações que completam o sentido da outra; tais orações são chamadas de subordinadas substantivas. São apenas duas: que e se Ex.: É bom que o problema seja logo resolvido. Veja se ele já chegou. Obs.:As palavras que e se, nos exemplos acima, iniciam orações que funcionam, respectivamente, como sujeito e objeto direto da oração principal.

 

Observações finais:

a) Apesar de, e em que pese, a são locuções prepositivas com valor de concessão. Ligam palavras dentro de uma mesma oração ou introduzem orações reduzidas de infinitivo. Ex.: Apesar do aviso de perigo, ele resolveu escalar a montanha. Apesar de ventar muito, fomos para a pracinha. Em que pese a vários pedidos do gerente, o caixa não fez serão. Em que pese a ter treinado bem, foi colocado na reserva.

b) Algumas conjunções coordenativas às vezes ligam palavras dentro de uma mesma oração. Ex. Carlos e Rodrigo são irmãos. Não encontrei Sérgio nem Regina. Comprarei uma casa ou um apartamento. Casos especiais Você deve ter percebido que algumas conjunções têm valores semânticos diversos. Vamos destacar algumas abaixo. A classificação de suas orações depende disso, porém o mais importante é o sentido da frase.

Mas- a) Coordenativa adversativa Ex.: Pediu, mas ninguém atendeu. b) Coordenativa aditiva (seguida de também; equivale a como) Ex.: Não só dá aulas, mas também escreve. (= Dá aulas e escreve) a) Coordenativa aditiva Ex.: Voltou e brincou com o cachorro. b) Coordenativa adversativa Ex.: Leu o livro, e não entendeu nada. (= mas) Pois a) Coordenativa conclusiva Ex.: Trabalhou a tarde inteira; estava, pois, esgotado. (= portanto) b) Coordenativa explicativa Ex.: Traga o jornal, pois eu quero ler. c) Subordinativa causal Ex.: A planta secou pois não foi regada. Como a) Coordenativa aditiva Ex.: Tanto ria como chorava. (= Ria e chorava) 24 b) Subordinativa causal Ex.: Como passou mal, desistiu do passeio. (= Porque) c) Subordinativa comparativa Ex.: Era alto como um poste. (= que nem) d) Subordinativa conformativa Ex.: Alterei a programação, como o chefe determinara. (= conforme) Porque a) Coordenativa explicativa Ex.: Não faça perguntas, porque ele ficará zangado. b) Subordinativa causal Ex.: As frutas caíram porque estavam maduras. c) Subordinativa final Ex.: Porque meu filho fosse feliz, fui para outra cidade. (= para que) Uma vez que a) Subordinativa causal Ex.: Fiz aquela declaração uma vez que estava sendo pressionado. (= porque) b) Subordinativa condicional Ex.: Uma vez que mude de hábitos, poderá ser aceito no grupo. (= Se mudar de hábitos) Se a) Subordinativa condicional Ex.: Se forem discretos, agradarão a todos. (= Caso sejam discretos) b) Subordinativa integrante Ex.: Diga-me se está na hora. Desde que 25 a) Subordinativa condicional Ex.: Desde que digam a verdade, não haverá problemas. b) Subordinativa temporal Ex.: Conheço aquela jovem desde que ela era um bebê. Sem que a) Subordinativa condicional Ex.: Não será possível o acordo, sem que haja um debate equilibrado. (= se não houver...) b) Subordinativa concessiva Ex.: Sem que fizesse muito esforço, foi aprovado no concurso. (= Embora não fizesse...) Porquanto a) Coordenativa explicativa Ex.: Ele deve ter chorado, porquanto seus olhos estão vermelhos. b) Subordinativa causal Ex.: Ficamos animados porquanto houve progresso no tratamento. Quanto a) Coordenativa aditiva Ex.: Eles tanto criticam quanto incentivam. (= Eles criticam e incentivam) b) Subordinativa comparativa Ex.: Ele se preocupa tanto quanto o médico. Que a) Coordenativa adversativa Ex.: Diga tal coisa a outro, que não a ele. (= mas não a ele) 26 b) Coordenativa explicativa Ex.: Faça as anotações, que você estudará melhor. c) Subordinativa causal Ex.: Nervoso que se encontrava, não conseguiu assinar o documento. d) Subordinativa concessiva Ex.: Sujo que estivesse, deitaria na poltrona. (= embora) e) Subordinativa comparativa Ex.: É mais trabalhador que o tio. f) Subordinativa consecutiva Ex.: Era tal seu medo que fugiu. g) Subordinativa final Ex.: Ele me fez um sinal que eu não dissesse nada. (= para que) h) Subordinativa temporal Ex.: Agora, que já tomaste o remédio, sairemos. (= quando) I) Subordinativa integrante Ex.: Queria que todos fossem felizes.

Parte 4 GABARITO E COMENTÁRIOS 327

TIPOLOGIA TEXTUAL: Veremos neste capítulo apenas o essencial da tipologia, aquilo que, de uma forma ou de outra, costuma ser cobrado em questões de interpretação ou compreensão de textos. São, portanto, noções que podem ajudá-lo a acertar determinados tipos de testes.

 

I) Descrição Um texto se diz descritivo quando tem por base o objeto, a coisa, a pessoa. Mostra detalhes, que podem ser físicos, morais, emocionais, espirituais. Nota-se que a intenção é realmente descrever, daí a palavra descrição. Veja o exemplo abaixo:

“Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.” (José de Alencar, Iracema) Uma característica marcante da descrição é a forte adjetivação que leva o leitor a visualizar o ser descrito. No trecho em estudo, o homem visto por Iracema é branco, tem olhos tristes (veja que bela hipálage criou o autor: azul triste em vez de olhos tristes); as águas são profundas, e os tecidos e armas, ignotos, ou seja, desconhecidos. Observe como a palavra todo revela a perplexidade do guerreiro, extático a observar a jovem índia à sua frente. Veja, agora, outro exemplo de trecho descritivo, na realidade uma autodescrição. “Meus cabelos eram muito bonitos, dum negro quente, acastanhado nos reflexos. Caíam pelos meus ombros em cachos gordos, com ritmos pesados de molas de espiral.”

(Mário de Andrade, Tempo da Camisolinha)

 

II) Narração Quando o texto está centrado no fato, no acontecimento, diz-se que se trata de uma narração. Palavra derivada do verbo narrar, narração é o ato de contar alguma coisa. Novelas, romances, contos são textos basicamente narrativos. São os seguintes os elementos de uma narração:

1) Narrador É aquele que narra, conta o que se passa supostamente aos seus olhos. Quando participa da história, é chamado de narradorpersonagem. Então a narrativa fica, normalmente, em 1ª pessoa.

2) Personagens São os elementos, usualmente pessoas, que participam da história. Mas os personagens podem ser coisas ou animais, como no romance O Trigo e o Joio, de Fernando Namora, em que o personagem principal, isto é, protagonista, é uma burra.

 

3) Enredo É a história propriamente dita, a trama desenvolvida em torno dos personagens.

 

4) Tempo O momento em que a história se passa. Pode ser presente, passado ou futuro.

 

5) Ambiente O lugar em que a trama se desenvolve. Pode, naturalmente, variar muito, no desenrolar da narrativa. Eis, a seguir, um bom exemplo de texto narrativo, em que todos os elementos se fazem presentes. “Muitos anos mais tarde, Ana Terra costumava sentar-se na frente de sua casa para pensar no passado. E no seu pensamento como que ouvia o vento de outros tempos e sentia o tempo passar, escutava vozes, via caras e lembrava-se de coisas... O ano de 81 trouxera um acontecimento triste para o velho Maneco: Horácio deixara a fazenda, a contragosto do pai, e fora para o Rio Pardo, onde se casara com a filha dum tanoeiro e se estabelecera com uma pequena venda.” (Érico Veríssimo, O Tempo e o Vento) O trecho do grande romance de Érico Veríssimo está situado no tempo (81), faz menção a lugares onde a trama se desenvolve e apresenta personagens, como Ana Terra e Seu Maneco. E, é claro, alguém está contando: é o narrador da história. Veja mais um exemplo de narração, agora com o narrador personagem. “Hoje estive na loja de Seu Chamun, uma tristeza. Poeira e cisco por toda parte, qualquer dia vira monturo. Os dois empregados do meu tempo foram embora, não sei se dispensados, e o dono não tem disposição para limpar.” (José J. Veiga, Sombras de Reis Barbudos)

 

III) Discurso Os personagens que participam da história evidentemente falam. É o que se conhece como discurso, que pode ser:

 

1) Direto

O narrador apresenta a fala do personagem, integral, palavra por palavra. Geralmente se usam dois pontos e travessão. Ex.: O funcionário disse ao patrão: - Espero voltar no final do expediente. Rui perguntou ao amigo: - Posso chegar mais tarde?

 

2) Indireto O narrador incorpora à sua fala a fala do personagem. O sentido é o mesmo do discurso direto, porém é utilizada uma conjunção integrante (que ou se) para fazer a ligação. Ex.: O funcionário disse ao patrão que esperava voltar no final do expediente. Rui perguntou ao amigo se poderia chegar mais tarde. Obs.: O conhecimento desse assunto é muito importante para as questões que envolvem as paráfrases. Cuidado, pois, com o sentido. Procure ver se está sendo respeitada a correlação entre os tempos verbais e entre determinados pronomes. Abaixo, outro exemplo, bem elucidativo. Minha colega me afirmou: - Estarei aqui, se você precisar de mim. Minha colega me afirmou que estaria lá se eu precisasse dela. O sentido é, rigorosamente, o mesmo. Foi necessário fazer inúmeras adaptações. 3) Indireto livre É praticamente uma fusão dos dois anteriores. Percebe-se a fala do personagem, porém sem os recursos do discurso direto (dois pontos e travessão) nem do discurso indireto (conjunções que ou se). Ex.: Ele caminhava preocupado pela avenida deserta. Será que vai chover, logo hoje, com todos esses compromissos!?

 

IV) Dissertação Um texto é dissertativo quando tem como centro a ideia. É, pois, argumentativo, opinativo. Geralmente é o que se cobra em concursos públicos, tanto em interpretação de textos quanto na elaboração de redações. Divide-se em:

1) Introdução Período de pouca extensão em que se apresenta uma idéia, uma afirmação que será desenvolvida nos parágrafos seguintes. É nele que se localiza o chamado tópico frasal, aquele período-chave em que se baseia todo o texto.

 

2) Desenvolvimento Um ou mais parágrafos de extensão variada, de acordo com a necessidade da composição. É nele que se argumenta, discute, opina, rebate. É o corpo da redação.

 

3) Conclusão Parágrafo curto com que se encerra a descrição. É também chamado de fecho. Há várias modalidades de conclusão: resumo da redação, citação de alguém famoso, opinião final contundente etc. Veja exemplo de trechos dissertativos. “De muitas maneiras, o emprego de alto funcionário público é um sacerdócio, porém pior, pois é exercido sob os olhares atentos da imprensa. O cidadão comum, tornado autoridade, transforma-se, do dia para a noite, numa espécie de âncora de noticiário. Não deve gaguejar, improvisar nem correr riscos em temas polêmicos.” (Gustavo Franco, na Veja 1782) “Entende-se por juízo um pensamento por meio do qual se afirma ou nega alguma coisa, se enuncia algo; serve para estabelecer relação entre duas idéias. Emitir um juízo é o mesmo que julgar. A inteligência opera por meio de juízos; raciocinar consiste em encadear juízos para tirar uma conclusão.” (Carlos Toledo Rizzini, Evolução para o Terceiro Milênio) “Insistamos sobre esta verdade: a guerra de Canudos foi um refluxo em nossa história. Tivemos, inopinadamente, ressurreta e em armas em nossa frente, uma sociedade velha, uma sociedade morta, galvanizada por um doido.” (Euclides da Cunha, Os Sertões) Observações

 

a) Um texto, às vezes, apresenta tipologia mista. Uma narração, por exemplo, pode conter traços dissertativos ou descritivos. Aliás, isso é freqüente. Não há rigor absoluto.

 

b) Se destacamos apenas um trecho de uma determinada obra, compreensivelmente todos os elementos que caracterizam sua tipologia podem não estar presentes. Por exemplo, os três trechos dissertativos apresentados, sendo parágrafos isolados, não contêm introdução, desenvolvimento e conclusão, o que não impede que os classifiquemos daquela forma.

 

c) O tema costuma sugerir uma determinada tipologia, mas também aqui não há nada de absoluto. Digamos que se queira escrever sobre um passeio. A princípio, pensa-se numa narração. Porém, o autor pode prender-se a detalhes do lugar, das pessoas, do transporte utilizado etc. Teríamos então uma descrição. Por outro lado, ele pode falar da importância do lazer na vida das pessoas, para a sua saúde física ou mental etc. Dessa forma, desenvolvendo idéias, cairíamos em uma dissertação.

Gabarito 328

Comentários 330

 

BIBLIOGRAFIA 452

PARTE I GENERALIDADES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação NÃO DEIXE DE LER! A interpretação de textos, tão comum em provas de Português, sempre foi um martírio para os alunos ou candidatos a concursos públicos ou vestibulares. A dificuldade é geral e, com certeza, oriunda da falta de treinamento. As pessoas têm pouca disposição de mergulhar no texto; elas conseguem, obviamente, lê-lo, mas não aprofundam a leitura, não extraem dele aquelas informações que uma leitura superficial, apressada, não permite. Ao tentar resolver o problema, as pessoas buscam os materiais que julgam poder ajudá-las. Caem, então, no velho vício de ler teoria em excesso, estudar coisas que nem sempre dizem respeito à compreensão e interpretação dos textos. Cansadas, não fazem o essencial: ler uma grande quantidade de textos — e tentar interpretá-los. Este livro que chega às suas mãos é extremamente prático. A teoria apresentada é pequena, mas deve ser estudada com boa vontade e disposição de aprender. Depois, você vai encontrar uma enorme quantidade de textos, 112, para ser preciso. São 815 questões, mais de 4000 itens, todos comentados. Fundamental é que você os leia na ordem em que são apresentados, resolvendo com atenção máxima as questões propostas. Começa-se por textos muito curtos, uma ou duas linhas, e vai-se aumentando, tanto em tamanho quanto em dificuldade. Cabe ainda ressaltar que não tivemos a preocupação de distinguir interpretação de compreensão. Levando-se em conta o objetivo da obra, isso seria absolutamente inútil. Não tenha medo da interpretação de textos. Como qualquer outra atividade intelectual, ela pede paciência e boa vontade. Não tente fazer apressadamente, pois isso prejudicará o seu estudo. Talvez o mais difícil seja começar. Depois, acredite, vem o progresso, objetivo maior de todos nós. O Autor

Português em Destaque

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